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Opinião - O país das décadas perdidas
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Redator do blog e coluna homônimos, diretor de Jornalismo da Rádio O POVO/CBN e CBN Cariri, âncora do programa O POVO no Rádio e editor-geral do Anuário do Ceará

Opinião - O país das décadas perdidas

Os economistas Pedro Rafael Lopes Fernandes e Guilherme Paiva ponderam que na década de 1990 a evolução média foi de apenas 1,56%, o que pelas métricas utilizadas para classificar os anos 1980 a faz ainda mais perdida; eles alertam para o risco do século perdido
FORTALEZA, CE, BRASIL, 21-08-2017: Jovens em aula de curso de capacitação no setor têxtil no Senai. Especial Indústria Têxtil - Senai. (Foto: Fábio Lima/O POVO) (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA, CE, BRASIL, 21-08-2017: Jovens em aula de curso de capacitação no setor têxtil no Senai. Especial Indústria Têxtil - Senai. (Foto: Fábio Lima/O POVO)

A Conferência de Bretton Woods, que reuniu grandes nomes da economia, como Keynes e White, Campos e Gudin, tinha como objetivo encontrar o modelo ideal para a reestruturação econômica do mundo pós-guerra. Nela, foram discutidos vários dos mecanismos que viriam a reger o mundo como conhecemos hoje. Na conferência, o Brasil teve uma missão importante, o então ministro da Fazenda, Arthur de Souza Costa, presidiu o comitê que criou o Fundo Monetário Internacional (FMI). Esse importante órgão da Organização das Nações Unidas, preenche um importante papel de zelar pela estabilidade econômica mundial, e passou, ao longo destes quase 80 anos, por crises econômicas, guerras, catástrofes ambientais, entre outras. 

Na edição especial de junho de um dos seus mais importantes reports, o World Economic Outlook, o órgão iniciou o documento com a seguinte frase, aqui traduzida: “Uma crise como nenhuma outra, recuperação incerta”. As projeções do FMI indicam uma potencial queda na economia mundial neste ano, de, aproximadamente, 5%, o Brasil deverá ser um dos países mais afetados, com previsão de queda de 9,1 %. A catastrófica crise também foi observada nos relatórios Global Economic Prospects publicado pelo World Bank e no Global Economic Outlook divulgado pela OECD.

O Brasil, além do costume com outras mazelas, também parece estar ambientado com crises. A trajetória de crescimento econômico que o Brasil vem seguindo desde os anos 1980, a famosa década perdida, em termos de desenvolvimento econômico e social apresentou um crescimento médio de aproximadamente 3%. Na década de 1990, das reformas, ajustes fiscais e reconquista da estabilidade da moeda, apresentou uma evolução média de apenas 1,56%, o que pelas métricas utilizadas para classificar os anos 1980 a faz ainda mais perdida.

Em texto para discussão elaborado por professores do Departamento de Economia da PUC-Rio, onde concluíam que a década de 2003 a 2012, apesar dos avanços econômicos e dos programas sociais, também foi perdida. O método que os autores utilizaram foi o controle sintético, em linhas gerais, trata-se da criação de um “clone” do Brasil, através da análise de dados econômicos e sociais de outros países. Na prática, o mérito do método é determinar os melhores grupos de comparação para o país em seus diferentes aspectos. A partir desta determinação é verificada qual foi a evolução deste Brasil sintético e é comparada à evolução do Brasil real. A conclusão não é das mais empolgantes, o Brasil:

1) cresceu, investiu e poupou menos; 2) recebeu menos investimento estrangeiro direto e adicionou menos valor na indústria; 3) teve mais inflação; 4) perdeu competitividade e produtividade, avançou menos em Pesquisa e Desenvolvimento e piorou a qualidade regulatória;
Carrasco, de Mello, Duarte (2014).

Um ano após a publicação desse texto a crise fiscal, data vênia, que só ocorreu aqui, atingiu seu ponto mais profundo em 2015, uma queda de -3,6% no PIB nacional. Enquanto isso, o crescimento médio do grupo de países emergentes foi de 4,3% e o crescimento médio mundial foi 3,5% no mesmo ano. A divergência mais recente de crescimento em relação aos países emergentes começou em 2011 quando o grupo cresceu 6,4% e o Brasil 4%, a partir deste ponto a diferença foi só aumentando, e considerando o período 2011-2019, o Brasil perdeu em média por ano 4% de crescimento. Em outras palavras, se a economia brasileira crescesse no mesmo ritmo dos emergentes teria 4% de PIB adicionais por ano, representando uma contribuição total de 37,2% ao PIB nacional.

Considerando tudo, já perdemos quatro décadas em oportunidades de crescimento, de combate à pobreza e a desigualdade, observando somente o intervalo de 1995-2021, a participação da economia brasileira na soma dos PIBs das economias emergentes despencou de 8,25% para 3,18%. Em 2018 perdemos também o bônus demográfico, isto é, o crescimento da população jovem desde então já é menor do que o exibido pela população idosa. O que exige cada vez maiores ganhos de produtividade para engatar um processo de desenvolvimento econômico sustentável.

Devido à última década perdida (2010-2019), as condições econômicas e fiscais do país são as piores possíveis para conduzir um enfrentamento resiliente dos danos econômicos causados pela pandemia. De acordo com o relatório do FMI, para 2021, a expectativa é que grupo de nações emergentes e em desenvolvimento cresça 5,9%, enquanto para nós, é esperada uma evolução de apenas 3,6%. Se as reformas institucionais não forem tocadas, o quanto antes, continuaremos a perder cada vez mais décadas e com o devido tempo, economistas e articulistas falarão do infame século perdido da economia brasileira.

Pedro Rafael Lopes Fernandes - economista Associado da BFA, pesquisador Associado - Funcap e coordenador de Planejamento Orçamentário - Ceará 2050.

Guilherme Paiva  - economista pela Feaacs (UFC) e mestre em economia pela UnB.  Economista associado BFA.

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