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Não se deve subestimar os eleitores
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Redator do blog e coluna homônimos, diretor de Jornalismo da Rádio O POVO/CBN e CBN Cariri, âncora do programa O POVO no Rádio e editor-geral do Anuário do Ceará

Não se deve subestimar os eleitores

Tipo Opinião

Sim, as eleições são hoje. A campanha passou voando porque o ano também está indo assim. Estranho, rápido e sem deixar boas marcas. Oficialmente, foram 45 dias para convencer o distinto público do quão honesto, criativo e competente se é, mesmo, no mais das vezes, sendo desonesto, repetitivo e despreparado já nos discursos.

Este déjà vu eleitoral explica o distanciamento verificado entre os eleitores. Entusiasmo é sentimento incompatível com o cenário e o cardápio apresentados este ano. Vale para as disputas pelas câmaras municipais e pelas prefeituras. Há muita descrença na plateia e pouca capacidade de provar o contrário.

Tomemos o exemplo de Fortaleza. Por certo, a votação aqui acontece hoje no plano majoritário muito mais por exclusão do que por empolgação. Seja porque não se gosta da ideia de manter o grupo hegemônico a já comandar Governo e Prefeitura, seja por não aceitar um líder corporativo nascido em um movimento na PM.

Em verdade, pela sua relevância econômica e demográfica, Fortaleza historicamente tem uma eleição com dimensão nacional. A vitória de Maria Luiza Fontenele em 1985 dizia muito do que era (e é) Fortaleza. Quando Paes de Andrade dormiu prefeito e foi surpreendido pela virada petista, ficou clara uma identidade muito própria. O mesmo se deu quando da primeira eleição de Luizianne Lins, em 2004, sem apoio nem do próprio PT, mais tarde unido porque havia poder.

Os sinais emitidos pelas urnas daqui cravam pinos no mapa da disputa presidencial. Todos têm padrinhos. Luizianne é Lula, Sarto é Família Ferreira Gomes (com o petista Camilo na mesma van) e o capitão Wagner é Bolsonaro- os dois últimos com uma clara vantagem, como o Datafolha mostra hoje.

Nesta divisão, nenhum deles pareceu ter medido a distância entre intenção e realidade. Alguém lembra de debate sobre previdência municipal? A pandemia cresce como ameaça e está a preocupar as pessoas, em alguma medida de modo um tanto inconsciente. No Horário Eleitoral, o humor, o slogan e o programa plasticamente bonito acabou sendo isso: apenas plástico.

As pessoas chegam a este domingo - provavelmente ensolarado - pensando em quem está preparado para agir daqui a pouco, em 2021, contra uma doença mortífera, oferecendo atendimento e a vacina quando houver. Pensam assim um tanto céticas porque ouviram ad nauseum para ficar em casa, mas viram os candidatos em corpo a corpo na rua. Sentem o medo da violência e sabem que quem promete resolver está mentindo, porque isso não é tarefa de prefeito.

Pois é, não se deve subestimar os eleitores, nem mesmo aqueles que se subestimam.

O aumento dos casos de Covid e o risco da necessidade da volta de medidas restritivas
Foto: FCO FONTENELE
O aumento dos casos de Covid e o risco da necessidade da volta de medidas restritivas

COVID-19

Como uma onda

É duro, sabemos. Mas os bares, restaurantes, barracas de praia, academias de ginástica (o que menos se faz ali é ginástica, mas ok), academias de crossfit (o que eles fazem ali mesmo?) e tudo o mais que reúna gente estão na iminência de enfrentar mais uma onda. Uma onda de restrição por parte dos governos estaduais e prefeituras. Do Governo Federal não, porque este nunca deu importância ao isolamento. O risco maior de haver mais restrições é do tamanho da indiferença. As pessoas perderam o pudor. Lidam com a doença como se fosse um filme repetido, mas na verdade é o mesmo que estreou em março. Distanciamento entre mesas é coisa do passado. Limite por mesa nem se fala. Face shield voltou a ser exótico. Em verdade, os convites para eventos sociais na pandemia são culposos - não têm a intenção de matar - mas implicam um risco descomunal.

Silvana Parente, doutora em Economia, vice-presidente do Corecon-CE e ex-secretária de Planejamento e Gestão
Foto: Arquivo pessoal
Silvana Parente, doutora em Economia, vice-presidente do Corecon-CE e ex-secretária de Planejamento e Gestão

O CASE DO BNB

Uma aula de microcrédito

Uma das responsáveis pela criação da política de microcrédito do Banco do Nordeste (foi na Era Byron), a hoje vice-presidente do Corecon, Silvana Parente, é cética. Ela critica a proposta do Governo Bolsonaro de lançar programa de microcrédito como ação pós-auxílio emergencial.

Silvana chama de uma "invenção", no mau sentido. "Achar que microcrédito resolve inclusão produtiva é ilusório". Atenta para as limitações do mercado de consumo. Produzir e vender para quem?

Mas o que causa mesmo estranhamento é oferecer crédito fácil como se oferta de dinheiro do Governo. Pode confundir mais do que ajudar. As pessoas podem sim achar que é doação e aí já viu. "Crédito envolve risco, responsabilização do tomador. Exige cultura de pagamento construída com muita luta pelo Banco do Nordeste. Sabe emprestar, cobrar e receber, com inadimplência baixa".

Não basta acessar o recurso, mas ter capacidade empreendedora. Um rumo razoável, sugere, seria criar linhas para economia solidária nas comunidades, um produto inexistente na vitrine dos produtos da microfinança brasileira. "Que isso seja feito de modo responsável e viável", defende Silvana.

Ela adverte que políticas de microcrédito não dependem de um decreto ou de mais depósito compulsório. "Já existe depósito para isso e eses valores nem são aplicados, porque os bancos não têm intresse. Preferem deixar o dinheiro rendendo zero no Banco Central".

A economista sabe o que diz. Em 1997, conta que o BNB fez benchmark internacional, na Ásia e América Latina, para desenhar o modelo de negócios e a metodologia do microcrédito produtivo orientado. Havia cinco agências piloto e o processo de seleção dos agentes de crédito, de capacitação modulada.

"Uma parceria com o Inec, a pactuação com Governo Federal e Banco Central para ter agências separadas do Crediamigo". Começou em cinco cidades, em 1998. No ano seguinte, 50 cidades. "Construímos um banco dos pequenos dentro do outro, aproveitando a estrutura fixa e tecnológica do banco grande. Hoje o Crediamigo tem mais funcionários que o BNB grande, nunca foi subsidiado, as taxas cobrem os custos operacionais e dá lucro ao banco", ensina.

Horizontais

Pelo telefone - Ericsson e a Universidade Federal do Ceará (UFC) completaram 20 anos de relacionamento. A cooperação tem impacto nos avanços tecnológicos no Brasil e no mundo, em especial no 5G.

Patente - No último Ranking Universitário Folha (RUF), publicado em 2019, a UFC ficou em 7º lugar entre as instituições brasileiras de ensino superior com mais pedidos de patentes, totalizando 219 solicitações ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

Foto do Jocélio Leal

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