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Opinião: Desenvolvimento e balas de prata
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Redator do blog e coluna homônimos, diretor de Jornalismo da Rádio O POVO/CBN e CBN Cariri, âncora do programa O POVO no Rádio e editor-geral do Anuário do Ceará

Opinião: Desenvolvimento e balas de prata

O professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC) e ex-presidente do Banco do Nordeste (BNB) Marcos Holanda escreveu um artigo duro no qual critica a aposta no hidrogênio verde. Nas eleições de 2020, ele integrou a equipe do capitão Wagner, hoje pré-candidato ao Governo. Leia na íntegra
Marcos Holanda, professor da UFC e ex-presidente do BNB (Foto: REPROUÇÃO TV O POVO)
Foto: REPROUÇÃO TV O POVO Marcos Holanda, professor da UFC e ex-presidente do BNB

Fortaleza - O professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC) e ex-presidente do Banco do Nordeste (BNB) Marcos Holanda escreveu um artigo duro contra o Governo do Estado. Holanda critica a aposta no hidrogênio verde, como tem feito o Ceará, não apenas via Governo, mas também em articulação com a Federação das Indústrias (Fiec). Há negociações envolvem a construção de 16 plantas de hidrogênio verde

Holanda provoca: "Como tantos se iludem de forma tão intensa com tão pouco? Qual foi o país que tirou sua população da pobreza vendendo gasolina, óleo diesel e chapa de aço? Será diferente com o hidrogênio verde?". 

Holanda foi fundador do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica (Ipece) - outrora Iplance - no Governo Cid Gomes, e critica no artigo a construção do Centro de Eventos do Ceará, uma obra emblemática de Cid. No ano passado, ele integrou a campanha do então candidato a prefeito de Fortaleza Wagner Sousa (Capitão Wagner). Wagner é pré-candidato a governador em 2022 e Holanda deve manter importância na equipe. 

Noutros termos, a campanha eleitoral já começou.

Leia na íntegra:

O Ceará é um estado pobre e desigual. Mais de três milhões de cearenses tem renda igual ou inferior a R$ 89,00 por mês. A renda dos 10% mais ricos é 35 vezes a renda dos 40% mais pobres. O PIB do estado a mais de três décadas flutua em torno de 2% do PIB nacional. Quase metade dos empregos pagam menos de dois salários mínimos.

O desafio do desenvolvimento é enorme e complexo. De um lado precisamos políticas públicas efetivas e eficientes. Isso significa políticas que entreguem resultados e custem pouco. Políticas que passem em testes mínimos de análise custos/benefícios. Um exemplo: os benefícios que vão ser gerados no metro da Santos Dumont vão justificar os bilhões que vão ser gastos na obra? Os benefícios de um centro de eventos com metade do tamanho e custo do atual não seriam os mesmos daqueles que temos hoje? Do outro, precisamos de um setor privado moderno, competitivo e menos dependente de benesses públicas. Isso significa empresas e empresários, de todos os portes, inovadores, capazes de competir no mercado global, financiados por estruturas de capital adequados.

Infelizmente, governo e boa parte do setor privado insistem em enfrentar o desafio do desenvolvimento com soluções rápidas e mirabolantes. Insistem na procura de uma “Bala de Prata”. Primeiro foi a refinaria, depois veio a siderúrgica, mas recentemente o modismo dos Hubs e agora o Hub do hidrogênio verde. Como tantos se iludem de forma tão intensa com tão pouco? Qual foi o país que tirou sua população da pobreza vendendo gasolina, óleo diesel e chapa de aço? Será diferente com o hidrogênio verde? Na época existiam previsões de a siderúrgica aumentar o PIB em 50%, o que aconteceu? Como acreditar que teremos 100 bilhões de investimento no Hub do hidrogênio em uma economia de PIB igual a 170 bilhões? As expectativas em relação ao Porto do Pecém são realistas? Para referência, estudos recentes mostram que o Porto de Roterdã, maior da Europa, com movimento trinta vezes maior que o do Pecém impacta em 6% o PIB da Holanda.

Temos que parar de aceitar facilmente ilusões. Temos que entender melhor o que é PIB, o que é desenvolvimento. Não devemos confundir valor de investimento com PIB, isso seria o mesmo que um empresário confundir receita com lucro.

Quando presidente do BNB sempre falava para os funcionários que o Brasil e o mundo estava mudando muito rápido. Ou o Banco mudava mais rápido ou aos poucos ele ia ficando insignificante. Cabe a mesma mensagem para o estado. Ainda estamos no ritmo da atração de fábricas de sapato, de papelão, de carros exóticos a diesel, de aço, de granito, coisa de 100 anos atrás.

Vamos acordar, vamos entender o que cria riqueza no mundo de hoje, vamos enfrentar a realidade do século XXI. Uma realidade onde a riqueza está no criar e não no produzir, onde o que importa é o valor agregado e não valor faturado. Vamos desistir da procura da Bala de Prata. Vamos apostar, não em uma, mas em milhares “Balas de Silícios” que temos: nossos jovens e empresas inovadores.

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