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Exausta de Jair Bolsonaro
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Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor

Exausta de Jair Bolsonaro

Tipo Opinião

Uma das maiores satisfações de poder compartilhar ideias neste espaço é a troca e o aprendizado que o debate me oferece. Há semanas em que recebo ofensas rudes, mas não é a regra.

Sinto uma alegria especial por saber que, concordando ou não, há quem lê, se envolve com o argumento e se dedica a responder ou refutar com muito respeito.

Agradeço sinceramente por cada mensagem. No último fim de semana, um leitor enviou uma avaliação contrariada e acabou por tocar num ponto sensível.

Segundo ele, é uma tristeza constatar que ando tão obcecada pelo Bolsonaro, que não escrevo sobre outra coisa. Para o leitor infeliz, tenho uma infinidade de outros temas que poderia abordar (como corrupção judicial, segundo sua sugestão), de modo que considera um desperdício de inteligência a minha abordagem monotemática. Não foi tão direto, mas poderia ter dito: moça, cure-se dessa fixação por Bolsonaro!

O e-mail tocou num ponto sensível porque ando de fato um tanto enfastiada da recorrência com que o presidente aparece por aqui. Acredite, leitor, é a última coisa que eu gostaria e me deixa um tanto esgotada perceber que um ser humano tão vil, baixo e desinteressante como o presidente da República me obrigue a não escrever sobre outra coisa, quando há tantas questões importantes que o país poderia debater e tratar.

Afinal, o que quer meu leitor cansado? Que me permita o luxo da absoluta alienação e venha aqui falar sobre as belíssimas piruetas da bailarina Marianela Nunez em sua última estreia no balé real inglês? Pior! Quer que eu escreva sobre o clichê máximo, a floração dos ipês, que incendeia as esquinas da cidade de amarelo? Eu vejo os ipês e não consigo deixar de pensar na bandeira e, inevitavelmente, na manifestação infame do último 7 de setembro, o presidente empoleirado num carro de som chamando um ministro do Supremo Tribunal Federal de canalha e incitando sua massa desorientada de apoiadores para o golpe. Que posso eu, uma pobre observadora da política, ante tanto absurdo?

Não houve autoridade com mandato que não tenha respondido o ato, por isso o tema se impõe. Até mesmo Augusto Aras se pronunciou, o apático Procurador Geral da República, que faz tão pouco e ainda recebe homenagens.

Como cereja no bolo, depois do circo armado, o presidente publica nota, cujo mentor intelectual (assumidamente) é ninguém menos do que Michel Temer. O Temer! Uma nota para explicar que ofendeu, incitou e ameaçou no "calor do momento". Não foi uma nota com o estilo rebuscado do ex-presidente octagenário, leitor, foi uma nota tão inculta quanto Jair, cheia de erros grosseiros e incongruências. Uma indignidade. Não basta aceitar o golpe, ainda tenho que aceitar o mau português?

Pois venho aqui pedir que me perdoem por ter mais uma vez escrito sobre Bolsonaro. É infeliz, é repetitivo, é improdutivo, mas a política brasileira tem nos oferecido isso semana após semana, para nosso desespero. Em minha defesa, só posso dizer que conto os dias, as horas e os segundos em que poderei falar sobre temas mais delicados, com frescor de coisa nova e alguma perspectiva de felicidade. Afinal, como escreveu Murilo Mendes, "que saudade do futuro!". n

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