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O carisma no centro da disputa
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Juliana Diniz é doutora em Direito pela USP e professora da Universidade Federal do Ceará. É editora do site bemdito.jor

O carisma no centro da disputa

Tipo Opinião

Ao que tudo indica, precisaremos lidar com a defesa da necessidade de uma "terceira via" até as eleições presidenciais do ano que vem. Tornou-se já um lugar comum o argumento de que é preciso forjar um nome alternativo à polarização entre lulopetismo e bolsonarismo, como se Lula e Bolsonaro fossem expressões equivalentes de um radicalismo com sinais trocados que precisa ser superado. O "terceiro candidato" deve ser um nome capaz de agregar, costurar cisões profundas, que possa, de quebra, recuperar um país desmantelado social e economicamente. Uma missão nada trivial.

As pesquisas de intenção de voto mostram que as opções já disponíveis para tal projeto de candidatura empolgam muito pouco o eleitor. Na última pesquisa PoderData, publicada durante a semana, vemos que Lula ganharia de Bolsonaro, João Dória e Eduardo Leite por uma larga margem superior a vinte pontos num possível segundo turno, o que mostra a tenacidade do político petista e a desidratação cada vez mais sensível do atual presidente.

Os nomes disponíveis no cenário político são bem conhecidos. O eterno presidenciável Ciro Gomes, o ambicioso governador paulista João Dória, o jovem, mas talentoso Eduardo Leite, que parece ser um caminho para um vislumbre de renovação do PSDB.

Nenhum deles tem crescido de forma substancial, porque trazem pouca novidade ao que já conhecemos como atividade e discurso político. Não convencem. Se, conforme se passou a defender com tanta insistência, ninguém suporta mais o radicalismo de um país polarizado, o que explica essa resistência aos novos-velhos nomes e a centralidade de Bolsonaro e Lula nos desenhos do que será a disputa eleitoral do ano que vem?

A resposta passa pelo perfil tanto de Lula como de Bolsonaro: os dois são líderes explicáveis graças à força do carisma. O sociólogo Max Weber define o carisma como "uma certa qualidade da personalidade de um indivíduo em virtude da qual ele é considerado extraordinário e tratado como dotado de poderes ou qualidades sobrenaturais, super-humanas ou, ao menos, especificamente excepcionais".

A base para a força carismática não precisa ser nenhuma capacidade objetiva, aferível. Carisma não se forja, não se compra, não se conquista com fórmula simples de marketing político, é quase sempre a união de uma biografia excepcional, habilidades únicas e uma conjuntura especialmente favorável.

Em artigo para o Nexo, o acadêmico John Potts ressalta que entender a força atrativa mobilizada pelo carisma é fundamental para qualquer interpretação sobre a dinâmica política do século XX. Para ele, "hoje, carisma é usado para descrever uma gama de indivíduos: políticos, celebridades, líderes empresariais. Entendemos o carisma como uma qualidade especial e inata que separa certos indivíduos e atrai outros para eles".

Por mais que se tente ignorar esse dado, tanto Lula como Bolsonaro são exemplos de líderes carismáticos com grande capacidade de atração de massas. Isso explica por que a terceira via é uma quimera, e não será possível atravessar 2022 sem enfrentar essa disputa primordial entre visões antagônicas de homem e de mundo. Que a vivamos com inteligência e possamos sobreviver a ela. n

 

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