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O jornalismo sempre de mãos dadas com a Democracia
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Juliana Matos Brito é formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Trabalha no O POVO há 20 anos. Atuou como repórter e editora do núcleo Cotidiano, que reunia as áreas de Ceará, Fortaleza, Ciência & Saúde e Esportes. Também foi editora de Audiência e Convergência do Grupo de Comunicação O POVO e editora-executiva do Digital e da editoria de Cidades. Tem especialização em Jornalismo Científico e é mestranda em Ciências da Informação, ambos pela UFC.

O jornalismo sempre de mãos dadas com a Democracia

Por que a democracia é importante mesmo para quem vai às ruas pedir o seu fim
Tipo Análise
7 de Setembro: Dia da Comemoração da Independência do Brasil, apoiadoes do presidente Jair Bolsonaro fazem manifestação na Avenida Alberto Craveiro, com gritos de ordem, faixas, pedindo o fim do STF e  voto impresso. Com muita motos, carros, caminhōes, bicicletas e pessoas a pé (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves 7 de Setembro: Dia da Comemoração da Independência do Brasil, apoiadoes do presidente Jair Bolsonaro fazem manifestação na Avenida Alberto Craveiro, com gritos de ordem, faixas, pedindo o fim do STF e voto impresso. Com muita motos, carros, caminhōes, bicicletas e pessoas a pé

As manifestações ocorridas em todo o Brasil, na última terça-feira, mostraram que a Democracia é mesmo o melhor sistema político. Não fosse ela, os cidadãos não poderiam estar na rua. Isso é fato. Mas acho que algumas pessoas que foram protestar não entenderam bem que estavam ali justamente por conta da liberdade que a Democracia nos proporciona. Para quem teve parente perseguido e/ou morto pela ditadura, ver cartazes pedindo intervenção militar é dolorido. É preciso lembrar sempre que estamos na Democracia (o governo de todos, do povo) e não em uma monarquia (governo de uma só pessoa) ou em uma aristocracia (governo de alguns). E que nesse sistema político há espaço de discussão, de negociação e de diálogo. Sair dele não nos trará benefícios.

O direito à manifestação deve ser garantido sempre. Isso não é problema nenhum. Direita, esquerda e centro são livres para irem às ruas justamente porque estamos em uma Democracia. Mas essa escalada autoritária preocupa. Acredito que nas semanas que antecederam o 7 de Setembro e após o dia de manifestação, O POVO conseguiu trazer um bom material sobre o que estava acontecendo, as expectativas, o que ocorreu e as articulações políticas que se desenham no pré e no pós-manifestação.

Desde o dia 1º de setembro, quando o editorial do O POVO trouxe um discurso anti-golpe e em favor das instituições, considero que a linha está bem traçada em relação à importância de respeitarmos os princípios democráticos. Na última quarta-feira, dia 8, mais um editorial demonstrou esse apreço. Com o título "Instituições precisam enquadrar Bolsonaro", foi claro na diretriz que segue: "É preciso pará-lo, antes que ele destrua a Democracia, conquistada a duras penas pelos brasileiros".

Realmente não dá para apoiar um presidente que ameaça a democracia e que incita a desobediência à Justiça. O que preocupa é esse autoritarismo que está na veia do bolsonarismo. Essa vontade de ruptura institucional beneficiará meia dúzia de pessoas. Os cerca de 30% que ainda apóiam o presidente sequer trataram de temas da nossa realidade atual como preço dos combustíveis, risco de racionamento ou o custo dos alimentos. Algo que reflete no nosso dia a dia.

Política, respeito e soberania popular

E não é preciso recorrer ao Fla-Flu político. As páginas do jornal podem sim ter espaço para opiniões de esquerda, de direita e de centro. Principalmente em relação à opinião de colunistas e articulistas. Inclusive isso é importante para o leitor sair das bolhas das redes sociais e algoritmos de Internet e se deparar com opiniões divergentes. O que não dá é quando há um texto que ultrapassa essa linha e defende a ditadura, por exemplo. A Democracia deve ser sempre norteadora das nossas ações.

Tive uma ótima conversa com um leitor, pelo WhatsApp, na semana que passou. Ele concordou com o editorial do dia 1º de setembro, mas reclamou sobre o jornal dar espaço a artigos com teor antidemocrático. "Não adianta o jornal produzir um editorial contra o rompimento das instituições e continuar dando voz para artigos de opinião - alguns até com periodicidade semanal - que pensam exatamente o contrário. O jornal precisa dar um basta na contrainformação. É contraditório", destacou. Nesse momento, acredito que o O POVO possa sim ter espaço para os diversas orientações políticas, mas concordo com o leitor: não há espaço para textos que estimulem esse pensamento golpista e contra as instituições. A linha pode ser ampla, mas deve ser sempre respeitosa e democrática.

Como destacou meu colega de O POVO, Érico Firmo, na edição da última quarta-feira 6, "as ameaças de Bolsonaro à democracia e às instituições são um absurdo e uma afronta". Ou como publicou Clóvis Holanda na edição de terça-feira 7: "Que sempre seja preservado o direito dos cidadãos de se manifestarem nas ruas, de forma democrática e sem armas! E que sejam sempre defendidas as instituições que construímos até aqui, com seus erros e acertos. Governos passam, instituições ficam". Deve haver sempre espaço para manifestação nas ruas. Mas não deveria haver mais espaço para defesa de atos antidemocráticos. Nem nas ruas. Nem no Planalto. Nem nas páginas do jornal.

Novo domingo

Neste domingo, O POVO estreia um novo DOM, como é chamado sua edição dominical. O jornal volta ao formato de segunda a sábado (standard) e adapta seu conteúdo diferenciado de domingo - com suas reportagens e colunas. A promessa é que seja algo que "surpreenda do leitor e tenha uma linguagem revistizada". Gosto dessa proposta de um jornal mais profundo aos domingos, com reportagens, um balanço da semana e muita análise de colunistas. Acho que quebra um pouco a nossa rotina e acredito ser positiva em um domingo, que temos mais tempo para ler ou mesmo por ser um dia para uma leitura mais leve. Desde 2018, ele tinha esse formato menor (Berliner) uma vez por semana. Mas como as edições de segunda a sábado já eram no formato standard, acredito que os leitores não terão dificuldade em se acostumarem com esse novo Dom.

Terei acesso à primeira edição desse novo projeto no mesmo dia que os leitores. Mas fui apresentada à proposta do que será essa edição antes, então já realço que estou ansiosa para o destaque às artes gráficas e à fotografia, além de entender como será esse novo caderno de Esportes, com conceito mais integrado entre as plataformas. Também considero positiva a separação do caderno de Esportes. Essa foi sempre uma demanda dos leitores.

Principalmente por ser o único jornal impresso a circular aos domingos no Ceará, penso que essa cara mais moderna faz sentido. É como uma revista semanal do O POVO. Estou animada com essa mudança e aberta às críticas e elogios dos leitores. Afinal, o jornal é feito para vocês.

Férias

Caros leitores, entrei de férias desde a última quarta-feira. Deixei essa coluna pronta no pós-manifestação do 7 de setembro. Espero que de lá pra cá, estejamos ainda comemorando a força e o respeito às nossas instituições. Serão 20 dias. Portanto, no dia 28, estarei de volta com minhas análises internas para a Redação do O POVO e no domingo, dia 3 de outubro, publicarei a coluna. Até a volta.

Foto do Juliana Matos Brito

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