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A dor da fome nas páginas do jornal
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Juliana Matos Brito é formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Trabalha no O POVO há 20 anos. Atuou como repórter e editora do núcleo Cotidiano, que reunia as áreas de Ceará, Fortaleza, Ciência & Saúde e Esportes. Também foi editora de Audiência e Convergência do Grupo de Comunicação O POVO e editora-executiva do Digital e da editoria de Cidades. Tem especialização em Jornalismo Científico e é mestranda em Ciências da Informação, ambos pela UFC.

A dor da fome nas páginas do jornal

A situação da fome está cada dia mais grave no País. O jornalismo precisa denunciar a forma desumana como muitas pessoas estão vivendo e cobrar do poder público respostas para a questão
Tipo Análise
Pessoas buscando sobras no caminhão de lixo no bairro Cocó, em Fortaleza. Vídeo foi divulgado nas redes sociais em outubro (Foto: foto: André Queiroz)
Foto: foto: André Queiroz Pessoas buscando sobras no caminhão de lixo no bairro Cocó, em Fortaleza. Vídeo foi divulgado nas redes sociais em outubro

A semana que passou nos trouxe uma imagem difícil de aceitar. Um grupo de pessoas procurando em um caminhão de lixo restos de comida. Uma cena que nos mostra como a miséria está aumentando e que precisamos fazer alguma coisa. A gente não pode achar que tamanha desumanidade seja natural. Aquelas pessoas têm nome, família, sonhos. O vídeo foi gravado por um motorista em setembro e divulgado em outubro. O POVO publicou matéria com o relato do motorista e o vídeo na segunda-feira, 18, no portal.

No dia seguinte, o impresso trouxe uma fotolegenda sobre o fato, um texto analítico em coluna e o editorial. Foi bem importante trazermos a análise do jornalista Henrique Araújo. Ele foi certeiro ao destacar: "A banalização da fome no país da rachadinha". "A cena é incômoda porque essa falta extrema desumaniza, iguala bicho e gente. Alvoroçados, disputando farelos e alimento estragado prestes a ir para o lixão, se desgarram de qualquer condição reconhecível como nossa. Como chegamos aqui? Não existe estado para eles e qualquer discussão parece inócua. Há necessidades urgentes, não atendidas, diante das quais a pauta política local e nacional se torna ainda mais disparatada", escreveu o colunista. Um leitor mandou mensagem o parabenizando pelo "brilhante artigo". E eu digo mais: brilhante e necessário.

Na mesma terça-feira, o jornal impresso trouxe também um firme editorial sobre o tema. Cobra, com muita razão, uma ação do Governo Federal, que insiste em não inserir a questão social dentro do debate econômico. "O sofrimento das pessoas e famílias que arrastam-se pelas cidades do País atrás de sobras de lixo para sua alimentação do dia, infelizmente, passa ao largo dos temas que realmente ocupam o espaço de preocupações reais de uma gestão que não colocou o combate à pobreza entre as suas prioridades", sublinha o texto. O POVO voltou ao assunto na última quinta-feira, 21.

As histórias e o poder público

Neste dia, na quinta-feira, OP+ , canal multistreaming do O POVO, publicou uma matéria com a história de duas mulheres que estavam na cena do caminhão do lixo. Mostramos a situação das famílias, o que as levam ao local para procurar subsistência, além de informação de que a Central Única das Favelas (Cufa) cadastrou as pessoas da Comunidade do Trilho, onde as famílias moram, para receberem ajuda. A reportagem foi publicada também, no dia seguinte, no impresso. Uma questão tão importante precisa mesmo de mais desdobramentos. Mas, mesmo com essa última matéria publicada, senti falta de uma discussão maior com o poder público. O que o prefeito, o governador, secretários, políticos nos dizem de uma cena tão desumana como essa? Imagina um parente ou mesmo você passando por isso? É doloroso demais.

Em cada esquina da cidade nos deparamos com cenas duras como essa do caminhão do lixo. Isso não pode virar paisagem. Precisamos buscar respostas e trazer isso para o leitor. A diretora de jornalismo do Grupo de Comunicação O POVO, Ana Naddaf, explica que o tema está recorrentemente nas páginas do O POVO. "Está sendo preparada também uma pauta sobre a realidade da fome e insegurança alimentar", avisa.

Em abril, O POVO contou histórias de pessoas que passaram a pedir ajuda nos semáforos de Fortaleza. A reportagem conta a história de três chefes de famílias que foram pela primeira vez às ruas após ficarem desempregados na pandemia. A luta era para levar dinheiro para o aluguel e para comida. Essa situação tem aumentado nas grandes cidades. Basta passear pelos bairros para ver. "Insegurança alimentar é um assunto que tem sido abordado pelo O POVO ao longo da pandemia de Covid-19, quando a fome ficou mais visível. Foi tema da reportagem "Novos pedintes chegam às ruas de Fortaleza durante a pandemia da Covid-19", publicada em abril passado; da matéria "Na periferia, insegurança alimentar aumenta a vulnerabilidade de mães e crianças", em setembro último; ou de forma transversal na série especial sobre trabalho das mulheres na pandemia, publicada em junho de 2021, no OP", detalha Tânia Alves, editora-chefe de Cotidiano. E explica que outras matérias, mais profundas, estão sendo preparadas para serem publicadas em breve. Adailma Mendes, editora-chefe de Economia, área que também abordará o assunto, esclarece que o material sobre o tema está sendo desenhado. "Vamos focar no aumento da insegurança alimentar entre brasileiros e mundo afora", antecipa.

Importante mesmo que esse assunto permaneça em nossas páginas. A nossa obrigação, como jornalista, é mostrar a situação e cobrar do poder público que faça algo para resolver esse problema. Não só o Governo Federal, que tem grande parte da culpa. Mas precisamos saber quais ações também o Estado e o Município oferecem para reduzir tamanha barbaridade. Uma resposta oficial dos nossos governantes deve ser cobrada.

 

Foto do Juliana Matos Brito

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