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Precisão é fundamental no jornalismo
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Juliana Matos Brito é formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Trabalha no O POVO há 20 anos. Atuou como repórter e editora do núcleo Cotidiano, que reunia as áreas de Ceará, Fortaleza, Ciência & Saúde e Esportes. Também foi editora de Audiência e Convergência do Grupo de Comunicação O POVO e editora-executiva do Digital e da editoria de Cidades. Tem especialização em Jornalismo Científico e é mestranda em Ciências da Informação, ambos pela UFC.

Precisão é fundamental no jornalismo

A clareza é essencial na nossa profissão. Passar a informação de forma que não dê margem a interpretação errada é crucial
Tipo Análise
Os policiais foram mortos na última quarta-feira, na BR-116 (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima Os policiais foram mortos na última quarta-feira, na BR-116

Uma ferramenta importante do jornalismo é a nossa língua. Precisamos ser claros ao nos comunicarmos com nossos leitores. Detalhes, que podem parecer miudezas, fazem a diferença no entendimento de um texto e podem confundir o leitor ou mesmo levar uma informação errada. Na semana que passou, por duas vezes O POVO foi confrontado com essa delicadeza. Nas duas não havia erro literal. Mas a informação não foi passada a contento para muitos leitores, levando imprecisão e falha nessa comunicação.

O primeiro caso ocorreu na manchete do impresso da última segunda-feira. Com o título "Ceará tem 61% das famílias em situação de extrema pobreza", a manchete levou muitos a crer que esses 61% se referiam à população do Ceará, o que seria um dado estarrecedor para o Estado. Na verdade, os 61% se referiam ao Cadastro Único. Estas duas palavras estavam bem acima do título, mas passaram despercebidas por muitos leitores. Portanto, 61% das pessoas registradas no Cadastro Único estavam em situação de miséria e não 61% da população do Ceará, como a manchete deu a entender.

Na quarta-feira, foi publicada uma nota na página Farol, no impresso, um esclarecimento sobre o percentual de famílias em extrema pobreza. Realmente, não houve erro na manchete, mas a forma como o título foi divulgado deu margem a outra interpretação. E, no jornalismo, precisamos ser o mais claro possível para evitar imprecisões e um entendimento errado sobre um fato.

Outro problema relacionado à nossa comunicação ocorreu na última quarta-feira. No texto de abertura, que fica abaixo do título, da matéria sobre o vídeo acerca dos policiais mortos na BR-116, publicada no portal O POVO, foi destacado que o acusado do duplo homicídio havia sido "assassinado". Essa palavra trouxe um sentido muito forte em um dia em que todos estávamos comovidos com a tragédia. Logo que foi identificado, poucos minutos após a publicação da matéria, o texto foi corrigido: "Autor dos disparos foi morto após o crime".

O POVO publicou um material bem completo sobre a morte dos policiais, com informações e análises acerca do fato. Foram diversas matérias desde a manhã da quarta-feira. Mas bastou uma palavra fora do contexto para que muitos leitores enviassem mensagem criticando o veículo de comunicação. Esses dois fatos, em apenas uma semana, deixam claro o cuidado que devemos ter com o nosso ofício. Seja em uma manchete, seja em uma matéria publicada com agilidade, temos de ter calma, tranquilidade e cuidado. Em um ano eleitoral, essa atenção deve ser redobrada. Basta ver como os dois casos foram usados politicamente nas redes sociais.

Censura em pleno 2022...

A semana que passou também teve um episódio triste para o jornalismo. O professor Nonato Lima, então diretor da Rádio Universitária da Universidade Federal do Ceará (UFC), foi destituído do cargo e seu programa, Rádio Livre, que está há 26 anos no ar, foi descontinuado na emissora. Nonato foi meu professor e de tantos outros jornalistas que passaram pela UFC. Tive essa honra. Desde a última terça-feira, uma grande mobilização ocorreu nas redes sociais em apoio ao jornalista.

Na quarta-feira, o colunista Eliomar de Lima publicou no O POVO Mais uma nota divulgada por várias entidades sobre o caso. Em tempos de liberdades tão festejadas e desejadas, esse é um assunto que precisa ser reverberado e não pode passar batido nos meios de comunicação. Cheguei a compartilhar com a Redação minha opinião sobre a importância do tema estar no O POVO. O portal publicou matéria com as informações sobre a saída do jornalista da rádio ainda na quarta-feira. Mas, desde então, nem a UFC, nem a Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC), a qual a Rádio Universitária é ligada, responderam às solicitações de contato. Uma pena. Seria o momento de trazer uma explicação sobre o fato para a população. Na última sexta-feira, o jornal impresso trouxe um artigo, na página de Opinião, do psiquiatra Valton Miranda sobre o assunto. Nele, Miranda destacou: "A palavra censura remete a tudo o que uma universidade e seus veículos de informação não podem tolerar".

O programa Rádio Livre, que traz diariamente informações e análises sobre os assuntos mais pertinentes do dia, passa agora a ser veiculado nas plataformas de podcast, como o Spotify (Radio Livre com Nonato Lima). E assim continuaremos com o prazer de ter acesso a um jornalismo de qualidade e comprometido com a democracia feito pelo professor Nonato Lima.

 

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