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"Passa um filme, fessora!!"
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Professor, artista e pesquisador do doutorado em Letras da UFC

"Passa um filme, fessora!!"

Tipo Opinião
Ex-aluno do professor Lúcio Flávio Gondim, Francisco Andreilson é ilustrador  (Foto: Francisco Andreilson)
Foto: Francisco Andreilson Ex-aluno do professor Lúcio Flávio Gondim, Francisco Andreilson é ilustrador

Você já ouviu ou disse a frase que intitula esta coluna. Ela é pronunciada em momentos de rotina enfadonha ou preguiça comum. Quem a diz é um estudante que sente necessidade de algum estímulo multimídia para sair de um contexto entediante em classe. Porém, pode ser também alguém que vê na escola uma oportunidade de experimentar um acontecimento fílmico ao qual não tem acesso em seu cotidiano. É ali, quando o corpo coletivo vê o mundo no escurinho, que se instaura a cenografia de uma arte poderosa, a do cinema. Ver um filme ou um episódio de série no celular ou no computador não se compara a esta sensação. Muitas perguntas surgem desse desejo comum de sala de aula. Vamos investigá-las?

Primeiro, é preciso lembrar que a escola é o lugar no qual muitos jovens terão pela primeira vez acesso a exibições cinematográficas. Tema de redação do ENEM 2019, o acesso ao cinema no Brasil segue difícil, apesar dos esforços na programação de cinemas populares. Muitas vezes o produto cinematográfico já chega neles com um ar de demora ou repetição, tornando a experiência pouco atrativa. Não que um filme a ser passado em sala de aula terá o frescor de estreia de blockbuster. Ocorrem, no entanto, outras justificativas para a carência do cinema em sala, dentre elas a maior é a necessidade de reinvenção das metodologias de aprendizagem.

Ao contrário do que ocorre em grandes colégios particulares, possuidores de projetores e telas em cada sala de aula, a escola pública ainda carece de recursos. Certamente este cenário vem melhorando cada vez mais e ganhará um novo incremento a partir da pandemia de Covid-19. Basta pensar que alunos e alunas munidos de tablets e professores com notebooks à disposição, como no caso da rede estadual cearense, poderão pensar e executar diferentes possibilidades de encontro com o saber. Resta saber se haverá: internet de boa qualidade nas escolas; espaço para criação de salas de exibição de vídeos, dentre outros pedidos antigos.

Em conversa com a professora e amiga Suelene Filgueiras, docente do curso de Multimídia de uma escola profissionalizante em Fortaleza, vemos que os avanços seguem em sincronia com resilientes dificuldades. Além do alto preço dos equipamentos, desafio parcialmente vencido por meio de projetos como "Minha escola é da comunidade", laboratórios de narrativas multimídias poderiam ser montados favorecendo não apenas a posição passiva, mas ativa diante de filmes, vídeos, podcasts e outros materiais que mesclam narrativas e imagens. A demanda por uma estrutura, todavia, ainda se sobrepõe à atualidade e à potência desses recursos físicos.

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Salas de aulas - especialmente as que não possuem o padrão MEC - que podem ser transformadas em laboratórios, por exemplo, carecem de interruptores e estruturas elétricas para conexão de computadores e de demais objetos de criação fotográfica e audiovisual. A disponibilidade de materiais de edição, com uma demanda robusta, também ainda são barreiras. Tudo isso mostra um cenário em transição de um momento de tédio e clamor por uma educação realmente significativa em tempos abundantemente visuais para um estágio em que a escola se torna público e até produtora de conteúdos que podem, sim, ganhar telonas e telinhas diversas. Enquanto isso, dicas possíveis são: o trabalho direcionado e produtivo com aparelhos celulares; a formação de cineclubes; o uso empreendedor das redes sociais etc.

Caminhamos, sem poder voltar atrás, em direção a um fluxo contínuo entre linguagens. Nele, professores, estudantes, artistas e demais tipos de realizadores culturais se confundirão. É preciso estar pronto para este futuro que já é presente, sob o risco de adormecermos todas e todos em um sono profundo diante da lousa branca e dos pinceis de cor. Nesse caso, somente uma super cena de ação ou um beijo na boca épico ou, quem sabe, uma sequência de ficção científica poderá nos salvar das garras do vilão deste conhecido filme.

Foto do Lúcio Flávio Gondim

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