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Oxalá nas escolas
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Professor, artista e pesquisador do doutorado em Letras da UFC

Oxalá nas escolas

Tipo Opinião
Ex-aluno do professor Lúcio Flávio Gondim, Yuri Evangelista assina a ilustração desta edição da coluna  (Foto: Yuri Evangelista)
Foto: Yuri Evangelista Ex-aluno do professor Lúcio Flávio Gondim, Yuri Evangelista assina a ilustração desta edição da coluna

Em um honroso convite da recém-reaberta Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), ministrei no fim de agosto uma oficina intitulada "O ensino da Literatura na educação remota". Apesar de não gostar de escrever com inicial maiúscula o nome dessa linguagem artística por considerar que a letra minúscula a humaniza, a atividade foi uma das experiências mais interessantes que já executei. Muito embora as três horas do encontro estejam disponíveis ao público no canal do Youtube da BECE, senti que seria produtivo registrá-lo também aqui em minha coluna n'O POVO.

Após o susto ao receber a missão de passar cento e oitenta minutos fazendo tal discussão pedagógica virtual, percebi o quão aparentemente pretensioso seria falar sobre como a literatura foi trabalhada por colegas professores e estudantes durante o período pandêmico em sua exigência de isolamento. Programei-me, então, para falar de minha experiência pessoal ao ler e discutir um artigo acadêmico recentemente publicado por mim na Revista Entrelaces do Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGLetras-UFC) que trata da mesma temática que a oficina. Acabei, ao fim, por abrir na tela a ferramenta pedagógica virtual que mais utilizei em 2020-2021 e construir aquela tarde com a investigação de minha página profissional no Instagram, a @auladolucio.

Visando à proximidade com o espaço mais ocupado por alunos, alunas e alunes, criar um perfil nas redes sociais mostrava-se, em janeiro de 2020, uma necessidade de contato e de responder a uma cobrança de meu corpo discente: professor, por que o senhor me stalkeia mas o seu perfil é fechado? Assim o fiz, criando a tal página. Dois meses depois, o mundo já enclausurado pelo vírus da covid-19, estar no Instagram seria quase uma obrigação de quem trabalha com jovens e buscava evitar sua evasão escolar. Para dar conta da realidade completamente virtual da Educação, transformei os posts instagrâmicos em lições de classe e casa, mostrando para toda a comunidade escolar (incluindo as famílias, que muitas vezes apontam infundada e injustamente os professores como desocupados durante a pandemia!) que não estamos vivendo anos completamente perdidos.

Esta foi, por fim, a proposta central da oficina para a Bece: compartilhar ideias de resistência e reinvenção com profissionais da área e demais interessados. O mais bonito foi perceber minha própria surpresa diante de tantas realizações executadas: projetos de leitura de poemas por meio de áudios de Whatsapp; vídeos para o IGTV com resenhas de obras literárias; ilustrações inspiradas em clássicos trabalhados nas aulas virtuais; encenação de textos teatrais dos alunos com seus familiares; execução de canções que auxiliarão a discussão sobre períodos históricos e correntes estéticas; o lançamento de uma ebook autoral da escola em que trabalhava, de nome "Poesia em Pandemia", e por aí vai...

Em determinado momento, respondendo a uma pergunta de um amigo professor sobre experiências de violência sofridas em sala, lembrei-me de uma que agrediu não apenas minha condução profissional, mas a própria arte: a proibição de uma escola particular (a primeira e única onde trabalhei - por apenas dois e longos meses!) de que eu lesse com os alunos em sala de aula. A justificativa para tal veto absurdo foi de que, por solicitação dos estudantes, eu tomasse o tempo em classe para encher a lousa de informações e não para fazer uma atividade que eles poderiam fazer sozinhos em casa.

Além de excluir um dos princípios mais defendidos por estudiosos do ensino de literatura como Rildo Cosson, a centralidade do texto literário em sala de aula, essa concepção de aprendizagem regride em tudo aquilo que hoje faço de melhor e que me levou à alegria dessa partilha na BECE: a integração de meios e mídias para a construção de uma educação em que estudantes são protagonistas. Eles passam a ter na arte um instrumento e não um referencial distante sobre o qual devem aprender características e fórmulas. Agradeço a cada pessoa que constrói comigo a @auladolucio, à Biblioteca Pública Estadual do Ceará pela oportunidade e, como diria uma artista brasileira, a mim mesmo, por seguir com fé. Sigamos, leitores e leitoras!

Leia também | Confira mais análises de Lúcio Flávio Gondim sobre arte-educação, exclusivas para leitores do Vida&Arte

yuri evangelista

Ex-aluno do professor Lúcio Flávio Gondim, Yuri
Evangelista assina a ilustração desta edição da coluna

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