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Ao vivo é muito pior
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Maisa Vasconcelos é jornalista com especialização em Escrita Literária pela FBuni. É âncora na rádio O POVO CBN e articulista do O POVO. Foi apresentadora de TV por mais de 20 anos. Tem passagens por impresso e internet, com presença ativa em redes sociais onde criou e editou o perfil @fortaleza365, no Instagram

opinião

Ao vivo é muito pior

Tipo Opinião

Sem mágoas nem um tico de tristeza que seja, reato esses nossos encontros, certa de que você sequer pode ter dado pela minha ausência. Melhor assim, temos tido motivos de sobra para esmorecimentos. Mas foram quatro longuíssimos meses de silêncio por aqui. Emudeci. Uma taciturnidade que se anunciou antes da pandemia, fincou raízes nos dias de confinamento e teima em se demorar.

Agora, despossuída da porção andarilha, sou apenas uma mulher impedida de passear sem rumo, de ver e ser vista pela cidade. Assim, vago impaciente por entre paredes que não ouso maldizer. Contrário disso, agradeço, distingo privilégios vários. Daí que tentei negociar com esta falta do que dizer. Nada. Apenas desorientação e uma urgência que não tem de estar no eu. Para quê a ânsia por anunciar quando é premente cuidar? Ouvir os outros, os que padecem por dores e perdas inumeráveis, os que se mostram para nomear e perenizar seus mortos, por que não?

Tenho ouvido muito discos e até me afeiçoei aos streamings, nesse caminho que nem sei mais aonde vai dar. Tenho conversado com pessoas emolduradas por telas onipresentes sobre a mesa da sala de jantar. Por meio delas, das telas, vêm e vão as notícias, os recados mutilados, os gestos incompletos, as hesitações da sozinhez. Talvez chegue o tempo de recuperar o tempo consumido em lavar… os legumes, as máscaras, a louça. Talvez.

A fadiga, esta, sim, sucedeu de se abancar. Não somente o quebrantamento pela falta de beijo e abraço, junto bateu a canseira das Housepartys, Zooms, Meets, Jitsis, calls e tals. Tem nome bonito e importado, claro, a sensação que nos desafia: Zoom fatigue. Mesmo as lives — papo, som, dentro da noite — já não aquecem como antes. Nunca antes tantas saudades do Antes.

Tudo muda, e com toda razão, então seguimos segurando na mão dos que nos proporcionam respiros. Seguimos nessa peleja por encurtar lonjuras e manter a mente sã, enquanto a vida brinca de bunda-canastra com nossos planos. Ainda que sem foco, seguimos. Talvez plante novos pés de cebolinha, hortelã, manjogome... Só não me peça para chamar a isso de novo normal.

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