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Eclipse Bolsonarista
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Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, cientista político, mestre em Ação Política pela Universidade Rey Juan Carlos (2007), diretor-executivo do Interlegis do Senado Federal. Analisa o cenário político nacional, a partir de um merguilh0op mais profundo nas causas e efeitos.

Eclipse Bolsonarista

Tipo Opinião

A criminosa invasão da Ucrânia, um país soberano e independente, pela Rússia é um fato que mobilizou a comunidade internacional em todas as frentes. Já são mais de 600 mil refugiados, crimes de guerra, além de violações das regras internacionais. Fatos que unem as diversas nações do mundo em defesa do povo e da soberania da Ucrânia. As duras sanções contra a Rússia são apenas o começo da reação internacional.

Infelizmente o Brasil, liderado por Bolsonaro, optou por uma vergonhosa neutralidade. Não existe imparcialidade diante de violações e crimes de guerra. Nobel da Paz de 1984, o arcebispo anglicano da Cidade do Cabo, Desmond Tutu, que lutou contra o apartheid, dizia que "se você fica neutro em situações de injustiça, escolhe o lado do opressor". É exatamente o que faz Bolsonaro. Sua neutralidade, na verdade, é apoio velado a Putin.

Mais do que isso, Bolsonaro mentiu ao dizer que havia conversado com o Presidente russo por mais de duras horas e depois teve que ser corrigido pelo Itamaraty. Sem perder a oportunidade de torcer uma mentira a seu favor, acusou a imprensa de faltar com a verdade para embaralhar as informações. Foi desmentido por sua própria fala, que foi gravada e filmada. Um vexame para ele, seu governo e a Presidência do Brasil.

Falta a Bolsonaro experiência e competência, tanto para dirigir o país, quanto para lidar com temas internacionais. Integrei o governo em seu início na direção da Apex-Brasil. Decidi sair quando percebi que o Presidente apenas gostaria de colocar nossa agenda internacional a serviço de seu projeto pessoal. Não possuo compromisso com o erro.

Apoiei Bolsonaro, porém conheci, nas entranhas do poder, os limites do Presidente em lidar com uma posição de liderança. Não havia como permanecer com meus princípios sob o comando de alguém que desconhece os pilares essenciais de respeito aos valores republicanos. Deixei o governo para manter minha integridade.

A crise da Ucrânia prova que estava correto. Bolsonaro jamais buscou se aproximar de verdade das democracias europeias e dos Estados Unidos. Havia apenas adoração por Trump. Não hesitou em trocar de ídolo com a derrota do amigo e mudou sua idolatria para Moscou. Putin é seu novo fetiche. Encontrou, afinal, um novo autocrata para venerar e arrastou o Brasil para mais uma trilha de vergonha na esfera internacional.

Bolsonaro envergonhou o Brasil ao depreciar o símbolo da resistência e Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, um líder com o patriotismo e coragem que infelizmente faltam a outros que se escondem atrás de uma breve e infeliz carreira militar.

Mostrando ignorância, o Presidente brasileiro zombou de Zelensky por ter sido comediante no passado. Deveria perceber que é melhor um comediante que se torna um corajoso líder, do que um Presidente que se torna um comediante covarde e prepotente no exercício do cargo.

O Brasil deveria estar ao lado dos esforços que uniram o mundo nos últimos dias. Como nação, devemos fazer a coisa certa sempre e os brasileiros têm feito isso, apoiando o povo da Ucrânia, um movimento que mostra o fosso de 63% de rejeição que separa Bolsonaro da maioria dos brasileiros. Torço para que em breve possamos superar este eclipse de lucidez em nossa política e realinhar nosso país na direção correta, ao lado de nações livres e democráticas.

 

Foto do Márcio Coimbra

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