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Márcio Coimbra: País dividido
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Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, cientista político, mestre em Ação Política pela Universidade Rey Juan Carlos (2007), diretor-executivo do Interlegis do Senado Federal. Analisa o cenário político nacional, a partir de um merguilh0op mais profundo nas causas e efeitos.

Márcio Coimbra: País dividido

Tipo Opinião

O Brasil sofre os efeitos de um movimento político que vemos no mundo inteiro em maior ou menor grau, a polarização. Usada como um meio de chegada ao poder nos últimos anos, tem perdido força, é verdade, porém ainda move multidões e consegue vencer eleições em alguns países. O rumo deste fenômeno ainda não está totalmente decidido, porém certamente levará alguns anos até ser diluído por novas forças que venham a surgir no mercado político.

Caracterizado pela rejeição, encontrou protagonismo no antagonismo. Isto funcionou em vários lugares e diante desta dinâmica, corre o risco de perder o poder exatamente pelo mesmo mecanismo que operou sua vitória. A tese é simples. Na posição agora de protagonista, abre espaço para os antagonistas ao projeto atual usarem a rejeição como elemento motor de suas campanhas.

O problema desta dinâmica é o embate entre rejeições, algo que enfraquece o debate político e enterra a proposição de ideias, motor de qualquer democracia. Neste modelo, valem mais os embates entre torcidas do que a discussão de projetos. Um duelo em que a derrota do opoente é o maior objetivo, maior inclusive que o triunfo dos vitoriosos. Um movimento cíclico que acaba enfraquecendo a política como meio essencial de uma convergência entre adversários.

Este fenômeno não ocorre somente no Brasil, porém, é resultado da falta de entregas reais da política tradicional. A rejeição aos políticos, motor deste movimento, surgiu diante de uma população que cansou de esperar mais do mesmo e resolveu optar por elementos de fora do espectro convencional. É uma reação digna e justa, porém, jogou o sistema em um modelo cíclico do qual hoje se tornou refém.

O único caminho na direção de quebra deste novo perigoso paradigma que se apresenta é a opção eleitoral pela razão ao invés da emoção, algo que não combina com campanhas, polarização e um duelo entre antagonistas que se pauta pela rejeição. Longe da solução eleitoral, o único caminho é aguardar os desgastes e brigas internas que acabam por enfraquecer estes modelos e esperar pelo início de um novo ciclo.

Países divididos geralmente não avançam em agendas prioritárias para a população, uma vez que são reféns de suas próprias narrativas e modelo antagônico de governo. Ao contrário, nações maduras que enxergam o lado contrário como adversários ao invés de inimigos tendem a evoluir e progredir de forma mais rápida e eficaz, capazes de convergir e aplicar políticas públicas comuns e necessárias para a população.

O tradicional antagonismo, chamado agora de polarização, apesar de ter se tornado moeda comum no mercado político, já foi rejeitada por diversos países que sofreram reflexos deste fenômeno em anos recentes. Resta saber como o Brasil irá se comportar diante desta realidade.

Talvez a importância da rejeição possa já ter cumprido com seu papel e a política seja reestabelecida como canal mais adequado de construção de um novo país. Este ano será essencial para sabermos qual o rumo nosso país decidirá trilhar, uma decisão essencial para sabermos o tipo de política que teremos pelos próximo anos. n

 

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