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Malícia Política
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Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, cientista político, mestre em Ação Política pela Universidade Rey Juan Carlos (2007), diretor-executivo do Interlegis do Senado Federal. Analisa o cenário político nacional, a partir de um merguilh0op mais profundo nas causas e efeitos.

Malícia Política

Tipo Opinião

A polarização insana que tomou conta do país tem afetado a qualidade do debate político do Brasil. A sensação de duelo e vitória a qualquer custo sepultaram as chances de entendimento e criação de pontes necessárias para atravessarmos a crise. Ao mesmo tempo, diversos grupos políticos vêm sequestrando temas e conceitos como forma de dominar a narrativa política.

A primeira e maior vítima tem sido a democracia. Em seu nome, alguns defendem o indefensável, atentam contra seus pilares e sua existência. Um modelo que dialoga com chavismo venezuelano e os recentes lances de populismo na Hungria e a autocracia de Putin na Rússia. A estratégia é sempre mesma, ou seja, desgastar as instituições para implementar um modelo autoritário travestido de democracia, um caminho que pode ser trilhado tanto pelos caminhos da direita, quanto da esquerda.

Outra recente vítima tem sido a liberdade. Sob o argumento de defendê-la, acabaram por usurpá-la. Esquecem o princípio básico de que a liberdade de um cidadão vai até onde inicia a do próximo, algo já lembrado por John Stuart Mill cerca de 150 anos atrás. Escondidos pelo manto da impunidade, esticam a liberdade a ponto de rasgá-la, com o objetivo de reescrever sua definição ao seu bel-prazer.

E o que dizer do conservadorismo? Uma obra construída com esmero por Edmund Burke e consolidada por Russel Kirk. Um conceito político e social que se baseia nos princípios da prudência, estabilidade e moderação, usada nos tempos atuais como justificativa de todo o tipo de retrocesso e radicalismo, que em nada expressam a cautela, equilíbrio e razoabilidade que pautam sua essência.

Representantes do populismo insistirão, nesta eleição, em se apropriar de conceitos políticos para vender sua ideia de país ou pelo menos a tentativa de sedução do eleitor pelo pior método possível, que é a enganação política, a ajuda paternalista e a sedução clientelista. Um método que torna os eleitores escravos dos políticos eleitos, tornando-se reféns de seus métodos e artimanhas.

Infelizmente faltam votos aos antagonistas do populismo, aqueles que são racionais, ponderados e moderados. Projetos de país não atraem os eleitores, que são facilmente seduzidos pelos agitadores das massas, donos de um discurso fácil, porém vazio. Candidatos com planos e direção definida são facilmente batidos por aqueles que tocam o coração do eleitor. Infelizmente votos surgem pela emoção, dificilmente pela razão.

Desta forma seguimos este modelo tacanho de fazer política, um método cada vez mais rasteiro que nos torna reféns cada vez mais daqueles que são inexperientes, indignos e aventureiros. O resultado desta equação é o triste Brasil que vivemos. Com um nível de debate tão baixo no país, é de se duvidar que possamos deixar esta espiral de atraso onde estamos metidos há tempos. A malícia política tornou-se regra no Brasil e aqueles que ousarem atacá-la pagarão o preço tentarem fazer o certo. Mesmo assim, acredito e aposto que devemos fazer a coisa certa sempre. Nunca é demais lembrar: sem moderação, permaneceremos reféns do atraso. n

 

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