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Ode para mais que 129
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Marcus Lage comportamento

Ode para mais que 129

Aphrodite, de  William Bougereau (Foto: reprodução)
Foto: reprodução Aphrodite, de William Bougereau

Março é das águas e das mágoas. Mês da efeméride feminina. Do triângulo, Triangle Shirtwaist, fez-se uma cruz. Que terrível adágio. Estigma da violência, ao sexo tido por 'frágil.'

Para o instinto animal, definido por Gibran, d'O Profeta, não por mim: elas são começo, meio e fim. Um axioma, não cabe teima: 'a ânsia da vida por si mesma.' Eles se engalanam para a corte, com pompa e circunstância. Disputam até à morte. Em mãos femininas, está o malhete da primeira e, in casu, suprema instância.

As homenagens, ato inconteste, são por idílio, gratidão e, algumas, fazem-se referenciais pela historicidade. Idem, pelo encanto com que cada uma se reveste. Existe musa para todo preito: Melpômene, Calíope, Urâni, Tália, Terpsícore, Polímnia, Clio, Érate, Euterpe...

Malfatti superou-se pela mão sinistra, numa pegada nada parnasianista. Sacudiu 1922, com pinceladas bem à la brasiliana. Se Lina foi boa, que seu legado seja um 'bardo.' Com Caipirinha, Tarsila passou Guignard.

Aqui, Grauben, Nice, Amora e Heloysa nas terras de Alencar.

Se a Inês de Castro foi morta, o beija-mão importa. Para Elizabeth II, o pragmatismo reina. Não houve lugar para para Romanov, tampouco Coburgo Gotta. O cetro é o mais decano, com monarquia no primeiro plano.

Catarina, que a neve derretia, do calor das anáguas, tinha impublicáveis manias, nos adereços e na movelaria. Desprovidos de total ortodoxía, adotando a volúpia da Shunga, dedicou birô à orgia.

Não seriam para Sien os Girassóis, se o leitor insiste.

O que deu Picasso para mademoiselle Roque, the last, but not the least? A Maja, desnudada, levou Goya aos asseclas de Torquemada. Se a veste der, cubra a ' floresta' de Coubert.

Como elas se entregam. Vejam Hebuterne, que era Jeanne, do alto ao chão, ao ver-se viúva de Modigliani. A dama Evita bizou-se primeira na Argentina, valendo-se de tripla dose de morfina.

Por suas três estrelas no Michelin, madame Pic, Anne-Sophie, diga-se com reverência um sonoro 'oui!.' Criando o que há de lá, onde a regra é dress to impress, noblesse oblige, Verônica Rodrigues.

É Dôra, Guta, Conceição e Maria Moura. Se vêm de Queluz, amigas de Rachel e Rita, a ordem é esta, sendo Sol ou Lua: 'Abrir a porta da rua, como quem abre num abraço, fazendo assim como faço. Entre a gosto, a casa é sua.'

O Anjo Aracy, de João, das veredas do grande sertão e das receitas para esse amor. Eis que temos batida de amendoim, voluptuoso prato com quiabo, para quem quiser, pois Diadorim é mulher.

Com o chocker, pilhado por Himmler, Klimt imortalizou, em gold, Adele. Simonetta foi o Magnum Opus do Boticelli. Gherardini posou para Mona.Heidelberg deu outra versão: seria Isabel, duquesa de Milão.

Marina quem cantou foi cantou Caymmi. Di retratou sua xará, Montini. Se Lina fosse Cavalieti, rimaria com Fornasetti.Aphrodite quem nos deu foi Bougereau, cujo nome não ensinou.

Camões: erro ou transe? Tin Nam Men, descanse bem.Em Goa, ou nas Portas das Terras do Sul. Amém.

Waris, paladina contra a Infibulação , Amazona de Daomé, Dirie, disse e dirá: uma mulher, sendo plena, ela é.

Do ventre às lâminas laboratoriais, Henrietta Lacks, com suas células imortais, linimento a um ror de ais.

Ana Neri foi a primeira daqui, curando em Português e Guarani. Mrs.Barton era Clara, mas fundou a Red Cross, cá entre nós.De lâmpada em punho, um anjo a curar, Florence night and day sempre será.

Proserpinas, do mesmo mármore de Bernini, expressam choro aos sósias de Platão. Mal escritos, com as mesmas letras de Raimundo, José, Pedro, Mário e João.

Algumas usavam pseudônimo. O affair do Dr. Adhemar, que La Roussef assaltou, sendo Ana Capriglioni, era chamada de Rui, artimanha da artista, pois esse era, de Barros, era o dentista.

Barry e Pompadour causaram espécie em Villa Lutèce. Maîtresses en Titre: tópico mundano. Mas o Tony é das guerreiras do quotidiano. Heroínas em sempiterno cartaz. Das aberturas dos palcos, dos entreatos e de epílogos ingratos.'Mérde': teremos espetáculo. Quantos solilóquios.

E o bastão, que dói na alma? Não é de Molière. Jamais cala, tampouco acalma. Contrarregra, cenógrafa, coreógrafa, bombeira e sonoplasta.Viver só de 'bravo' não basta.

Divas das ruas.

"Museu é o mundo,' grifou Oiticica. Olhos de Manuka. Desapercebidos, alheios? Nunca. Para outro elogio, temos Omar.'

Tua boca amorável é a mais bela rosa do universo.'

- Da quadras de Rubayat.

- O riso saiu da garganta. A voz, imperativa, era emprestada. Da impostação era vício? Ossos do ofício.

É siciliana, germanopratin ou tuaregue? Precisava-se de um modelo. Viva o belo!

O ateliê era no Quartier. Canção e boa luz haveria de ter. De um Le Verre Français. Seria Daum?

Riesling, salmão, batatas e pão. Memória, não me engane, era Poilâne. Trokenbeerenauslese e flognard. Na farmacinha: Carmelitas de Boyer. Santé.

Ladeando o cavalete, via-se um Perriand, em couro, e manta do Le Jacquard, cor de amarelo-ouro. A calefação era para todo o espaço. Mais cálido era no regaço. Arte muito se faz num abraço.

Por tais Evas, perdeu-se o azimute, a razão. Heloise, de Abelard, Marilias, Sulamitas, Wallies, com pores de Sol sem império, e Isoldas de Tristão. E Mumtaz Mahal? Castelos adornados com Carrara, jardins de topiárias, criados e piscina. Declarações de Hearst -Marion, Boldt-Louise, Lage- Gabriella, Plácido e Pierina...

Ari pensou ter Jacqueline. Tivemos Tereza Goulart. O deserto tem segredos, perigos e a majestade de Sheikha Mozah.

Do berço dos Direitos, gravados num Cilindro de Ciro, Fawzia, a mais linda do Nilo, fez-se ex -Pahlevi. Precussora do divórcio, haaram para o Alcorão, deixa titulo, filha e ostentação.Tudo pela vida leve.

A saudosa Philippine, uma azul Rothschildiana. Tem Rosseti e Pato. Suzana Balbo, dos trópicos, a bachiana. Não importa se com Marie Duplessis ou Margherite Gautier, o importante é se um 'brindisi ' vai haver.

Cito Piaf, de La Vie, nem sempre En Rose. Sarapô, não, chapeau? Outras, que nem cantoras eram, cantaram 'No, Je Ne Regrette Rien. Mes chagrins, mes plaisirs.' Aplaudiram a si, em noites gris. Aretha, quantas caretas. O que tinham? Jam session day by day. I'll Say a Little Prayer For You, Sarah, Nina, Dione, Ella, Holliday...

María Félix, por Anubis, foi ouvida e, por Faruk, fez-se compreendida: 'me entrego gratuitamente quando gosto, não com jóias, nem com todo o seu reino.' Nefertari, dona do diadema, prosseguiu com o milenar sono, velada por Osiris, quem dos mortos é o patrono.

Por Zizou, Gall, Priscilla, Linda, Yoko, Amandine a vitrola não cala.Num outro gramofone tem Chiquinha.'Ó abre alas'...O Mio Babbino Caro, não calas.

'Como encadernação vistosa, feita para iletrados, a mulher se enfeita. Mas ela é um livro místico e a poucos, a quem tal graça se consente, é dado lê-la.' Donne, um metafísico, fê-la. E Elegies alguém gravou. Wilde descartou a compreensão. Amá-las basta.

Destarte, a felicidade é tê-las. Tal favor imerecido é para ninguém. O poeta falou de algo impenetrável, que jamais deveria ser dito. Mulheres, pela sublimidade, são criptográficas e cifradas como Voynich, O Manuscrito.

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