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Deus, o que quer de nós?
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Marília Lovatel é escritora, cursou letras na Uece e é mestre em literatura pela UFC. É professora de pós-graduação em escrita literária e redatora publicitária. Tem livros publicados por diversas editoras, entre elas, Scipione, Moderna, EDR, Armazém da Cultura e Aliás. Vários dos seus 12 títulos são adotados em escolas de todo o país, tendo integrado 2 vezes o Catálogo de Bolonha, 2 vezes o PNLD Literário e sido finalista do Prêmio Jabuti 2017.

Deus, o que quer de nós?

O livro é um marco na história da nossa literatura. Com literatura, fez história. Com o voto, fazemos história. Hoje, 2 de outubro de 2022, vamos às urnas para o exercício democrático. Vamos munidos da coragem dos Rosa e de Ignácio
Escritor Ignácio de Loyola Brandão (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Escritor Ignácio de Loyola Brandão

Aos 86 anos de idade, Ignácio de Loyola Brandão faz a pergunta que intitula o seu novo romance e esta crônica. No Olimpo das minhas admirações e entre os grandes que me inspiram e me guiam, eis o escritor incansável, publicando o seu livro, o quarto de uma tetralogia, iniciada com "Zero" e continuada por "Não verás país nenhum" e "Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela", quatro volumes sobre um país distópico, que insiste em ser real.

O lançamento foi adiado por uma pálpebra que baixou sobre o olho direito, anunciando a aproximação de um perigoso AVC e a presença da diabetes. Quem poderia imaginar algo assim, quando almoçamos juntos na Rua Girassol, Vila Madalena, em uma mesa cativa dele no Pasquale, delícia de restaurante italiano, em terras paulistanas? Foi em 14 de maio, ele nos contava, no intervalo dos goles de um cabernet sauvignon, sobre o próximo rebento literário.

O almoço aconteceu antes do susto exigir uma série de mudanças em sua rotina. Ele suspendeu o vinho, está se cuidando porque quer viver, porque terá sempre muito o que dizer, o que escrever. Porque precisamos dele para fazer a pergunta sobre a vida, respondida por Guimarães Rosa em "Grande sertão: veredas". E também respondida por sua esposa, Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, agraciada pelo Governo de Israel com o título de Justa entre as Nações por sua valorosa ajuda a muitos judeus que conseguiram fugir do horror nazista, na virada das décadas de 1930 para 1940, e ingressar no Brasil durante o governo de Getúlio Vargas.

Essa coragem é inspiração, tem a potência de quem muda os destinos, enfrenta sem medo o autoritarismo das ditaduras, como fez o autor de "Zero", romance libertado da gaveta na Itália, em 1974, depois da recusa de várias editoras brasileiras, receosas da censura e da repressão vigentes naqueles tempos plúmbeos.

O livro é um marco na história da nossa literatura. Com literatura, fez história. Com o voto, fazemos história. Hoje, 2 de outubro de 2022, vamos às urnas para o exercício democrático. Vamos munidos da coragem dos Rosa e de Ignácio, com quem estive na Rua Girassol, sob um parreiral. Vamos com as flores que vencem as armas e os livros que escrevem o futuro. Que seja uma eleição justa e reconhecida entre as nações, como Aracy. Que, antes de apertar a tecla “confirma”, nos perguntemos que país desejamos com a nossa escolha. A questão a responder, ao longo deste dia, é: Deus, o que queremos de nós?

 

 

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