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Nova geopolítica
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É mestre em Direito pela UFC e doutorado em Direito pela Johann Wolfgang Goethe-Universität Frankfurt am Main. Atualmente é professor da Universidade de Fortaleza e Procurador do Município de Fortaleza

Nova geopolítica

Na semana passada, Austrália, EUA e Reino Unido anunciaram a mais poderosa aliança militar regional celebrada após 1945, que ficou conhecida como acordo Aukus, como abreviação das iniciais dos três países.

A Aukus emitiu vários sinais da geopolítica (o verdadeiro nome para o eufemismo que conhecemos hoje como relações internacionais).

O primeiro deles é que haverá uma nova forma de alianças militares regionais, mesmo ao custo de forte desagrado a antigos aliados.

A aliança militar fez com a Austrália cancelasse contrato celebrado com a França, desde 2016, para a entrega de 12 submarinos convencionais.

A oferta dos EUA virou a cabeça dos australianos quando ofereceu submarinos movidos à propulsão atômica. Não se discute a superioridade destes frente àqueles, agregando-se à nova compra o significado político de tais aquisições.

A França reagiu como pôde: protestou, o ministro das Relações Exteriores qualificou o acordo como uma “facada nas costas”, reclamou que não se trata assim aliados históricos. O episódio mostra também o verdadeiro tamanho da França na geopolítica.

A saída dos EUA do Afeganistão tem sido trabalhada contra o presidente Biden interna e externamente. Donald Trump e seus republicanos pediram a renúncia de Biden.

Óbvio que tal pedido não passa de mera retórica. Mas uma retórica inédita e com disposição agressiva contra quem tem pouco mais de seis meses na presidência. Externamente, Rússia e China articularam rápidas ações de aproximação com os talibãs, o que mostra capacidade de substituir espaços dos EUA.

A aliança Aukus nasce também daí. É evidente a intenção de enfrentamento e contenção da China na região sul do Pacífico, ainda que a economia australiana dependa muito deste mercado.

No anúncio da aliança sequer foi mencionado o nome da China, mas ninguém dorme de touca, e algo mais direto contra os chineses não poderia existir.

A China tem perfeita noção do que está em jogo. E a Aukus também. A primeira lição é apenas a confirmação de que não há sentimentalismo em geopolítica. Se os EUA podem militarizar o Pacífico Sul, porque não poderia a China manter equipamentos militares no Caribe?

Os EUA jamais aceitariam México ou Canadá numa aliança que não fosse liderada pelos mesmos EUA, assim como russos não aceitam a Ucrânia na Otan.

O anúncio da Aukus deverá criar mais instabilidade. Não somente provoca a China a uma reação, mas ainda divide a União Europeia.

Os europeus são obrigados a enfrentar agora o que sempre viram, mas fingiam que não enxergavam: a submissão completa à geopolítica americana possui levado preço. E quando vem acompanhada do fortalecimento dos laços com que acabou de deixar a União, como o Reino Unido, o aviso não poderia ser mais amargo.

Resta saber como europeus reagirão à humilhação imposta à França, um de seus mais fiéis e importante membros.

 

Foto do Martônio Mont'Alverne

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