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Juiz federal, foi vice-presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe/2010-2012). É professor em cursos de pós-graduação e professor convidado da Escola da Magistratura Feral da 5ª Região (Esmaf), da Escola da Magistratura do Estado do Ceará (Esmec) e da Escola de Administração Fazendária (Esaf). É autor dos livros

Nagibe Melo opinião

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Qual a diferença entre o nosso fingimento e o fingimento da IA? Acho que a única diferença é que a nossa dor é real, ainda que ela seja transformada em linguagem por um aplicativo de inteligência artificial
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Curso 100% digital e gratuito ensina lógica de programação, criação de jogos e fundamentos de IA (Foto: Divulgação/Freepik)
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Fiz duas músicas com a ajuda de uma inteligência artificial. Não entendo nada de teoria musical, notas, partituras, escalas, melodia, ritmo e harmonia, mas adoro música. Danço e canto; muito mal, por sinal, mas me deixo levar. Eu fiz as letras, inseri um prompt, e o Suno me voltou músicas lindas que eu não consigo parar de escutar. Music on demand. A coisa entendeu o meu estado de espírito.

Faço música com um grupo de amigos queridos, sendo eu o menos talentoso. Eles também ficaram impressionados com as capacidades da IA. Ficamos desconsertados. O que diferencia a arte que a IA faz da Arte que nós, humanos, fazemos? Bom, uma resposta fácil seria que, em última análise, a IA não faz Arte porque sou eu quem dou os comandos, ainda que o espaço de "criatividade" dela seja enorme. Quando menos, escolho o produto final, faço a curadoria. A música produzida é o mais perto do que sinto.

É a minha dor que está em jogo. Embora a IA possa organizar as minhas ideias e expressá-las melhor que eu mesmo seria capaz. A dor é minha dor. Talvez no futuro faça toda diferença saber que algo foi feito e vivido por uma pessoa real. Entretanto, contudo, todavia, o real sempre será fabricado, como já é, nas redes sociais, nos nossos perfis, nas nossas vidas publicadas. Somos fabricações de nós mesmos.

O poeta é um fingidor, finge tão completamente que finge que é dor a dor que deveras sente. Fernando Pessoa já sabia. A Arte é uma falsificação para expressar uma dor real. Se a IA não expressa uma dor humana, uma dor real, não é Arte. Qual a diferença entre o nosso fingimento e o fingimento da IA? Acho que a única diferença é que a nossa dor é real, ainda que ela seja transformada em linguagem por um aplicativo de inteligência artificial.

A fonte de toda Arte é um sentimento humano. Nós, os humanos, temos uma tendência atávica a acreditar em coisas tolas, às vezes, muito tolas. Podemos acreditar que a IA sente, podemos acreditar que a música feita por IA é Arte, mas a Arte só existe quando um humano toca a alma de outro, ainda que por meios artificiais.

 

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