Finalizando a nossa conversa sobre o cuidado, nessa terceira publicação vamos conhecer a dieta de Salermo e seus preceitos para épocas de muitas aflições e ansiedades.

Se nos tempos atuais, com a pandemia já há meses presente no nosso cotidiano, é difícil não se deixar tomar pela ansiedade, imaginemos como não seria na Idade Média? A peste negra e tantas outras rondando as vizinhanças. Doenças e violências a granel e quase nenhuma ciência que pudesse servir de bússola.

Pois foi mesmo na Idade Média que surgiu a escola de medicina de Salerno, na Itália. Uma escola absolutamente inovadora para a época, cinco anos de curso, o último equivalente a um tipo de internato e as mulheres também poderiam se formar. Parte de seus ensinamentos eram expostos em um poema bastante difundido na época, intitulado “Flos Medicina” ou “Regime Sanitatis Salernitanum”. Imagine! Ensinamentos médicos em forma de poema! Essa escola realmente tinha a manha de lidar com pessoas tomadas pela ansiedade.

Flor da Medicina (trecho):

Se quereis conservar-vos incólume e sadio,
evitai os cuidados ansiosos, guardai-vos da ira.
Poupai o vinho, sede parco na ceia; não julgueis inútil
o levantar-vos após a refeição e fugi da sesta ao meio dia.
Reter as urinas ou a defecação seja-vos interdito.
Guardando estes conselhos, longo tempo eis de viver.
Caso vos faltem médicos, três coisas suprirão suas vezes:
hilaridade, repouso e dieta moderada.

 

 

Ou, poderíamos dizer: para nos preservar, diante do temor frente a doença, da soberba de se ter tanta certeza de tudo ou da pressa que não nos deixa esperançosamente esperar, busquemos a hilaridade, o repouso e a dieta moderada. Ou, em outras palavras, diante da peste nada como alegria, dieta e sossego.
Que maravilhosos preceitos de saúde e higiene em plena idade média, em meio a peste negra. E até hoje não aprendemos sua importância. Diante da necessidade de cuidado para a preservação da vida, busquemos a alegria, a dieta e o sossego.

Oneida descobriu um câncer na mama. Encarou corajosamente a cirurgia de retirada total e iniciou a quimioterapia. Como era solteira, sua mãe esperava que ela viesse morar em sua casa durante o tratamento. Afinal, apoiaria sua filha incondicionalmente.

Teria todo o tempo disponível, acompanharia todas as medicações, todas as consultas, conversaria com todos os médicos. Mas frustou-se. A filha preferiu morar com uma amiga. Essa amiga não teria tanto tempo para ajudar, pois trabalhava. Mas nessa casa Oneida teria mais sossego. A amiga não se perdia em desvelos e ansiedades. A rotina da casa, em linhas gerais, foi mantida. A amiga deixava a colega à vontade no cotidiano e comparecia, quando solicitada.

- Sei que minha mãe me ama e que queria mesmo, muito, me ajudar. Mas ficava tão ansiosa que eu não conseguia ficar tranquila. Eu tive muito medo durante o tratamento. E minha mãe não conseguia lidar com isso. E eu ficava ainda pior. Já minha amiga, quando eu estava bem, parecia que nem estava em casa. Mas sempre que eu pedi dormiu de mão dada comigo. Ao seu lado meu medo diminuía. Ficava mais fácil levar o tratamento.

Essa amiga conhecia a dieta de Salermo: Alegria, dieta e sossego. Muito sossego.