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O racismo em pauta na tragédia e na polêmica
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

O racismo em pauta na tragédia e na polêmica

Com os protestos após a morte de George Floyd, nos Estados Unidos, a imprensa em todo o mundo voltou a pautar as discussões em torno do debate racial. A agenda do racismo e das questões raciais nos rodeia. Não é difícil encontrarmos matérias acerca do tema, mas não tão frequentes como nos últimos dias.

Em um país onde 54% da população são negros, como o Brasil, é necessária uma pauta dramática, para o racismo ser dominante no noticiário? A propósito, o assunto só se torna predominante quando há uma tragédia (um crime bárbaro, comovente), uma efeméride (uma data relevante) ou uma polêmica (lembre-se das cotas raciais).

Não se deve inviabilizar a discussão que ora se faz. É louvável que ela ocorra, mas a visibilidade a um assunto que faz parte do nosso cotidiano precisa ser recorrente. No O POVO, o debate racial também voltou a ser destaque a partir dos protestos antirracistas pelo mundo. Como boa parte da grande mídia, o jornal não deixa de abordar o assunto, mas tem intensificado a abordagem pelos desdobramentos do caso.

Qualquer jornalista, de qualquer raça, pode abordar o tema. Não acredito que um jornalista branco, ao refletir sobre o debate racial, inviabilize a pauta. Isso seria negar o Jornalismo. No entanto, quando inserimos o jornalista negro na discussão, tornamos o tema muito mais inclusivo. Isso não é simbolismo. Isso é representatividade.

É preciso que isso seja rotina nas Redações, que haja mais profissionais negros, que as pautas diversas sejam mais frequentes. Senão, cairemos na surrada incoerência de somente trazermos os temas à vigência quando demandados pelos acontecimentos. Conversei com duas mulheres negras que atuam no O POVO e que têm escrito sobre o assunto.

Inclusão

Eduarda Talicy é redatora da Primeira Página do impresso e escreveu a reportagem que é publicada neste domingo no O POVO sobre o tema. Para ela, ter um jornalista negro que escreva sobre o debate é ter uma referência. "Quem não tem contato com o racismo talvez não teria aquele olhar. É um olhar muito mais apropriado de tradução dos fatos. É outra legitimidade. É importante que uma Redação seja diversa, não só sobre o racismo, mas sobre tudo. Um jornalista que mora no Bom Jardim, por exemplo, vai trazer o olhar do bairro dele", compara.

Segundo a jornalista, é necessário colocar mais pessoas negras nas matérias, trazendo os profissionais de todas as áreas quando abordarmos quaisquer assuntos - da engenharia à antropologia. "Isso é legitimar a existência e fazer com que todo mundo se veja. Somos um país diverso. E não estamos traduzindo essa diversidade corretamente se não incluirmos", analisa.

De fato, quantos profissionais negros você vê sendo entrevistados nos portais de notícia, nos jornais, nos perfis dos veículos de comunicação? Por que negamos essa existência? Alguém pode alegar que não há uma seleção desses profissionais pela cor da pele - o que seria mais contraditório ainda. Se temos a maioria da população negra no País, onde está essa gente? Sendo invisibilizada pelos meios de comunicação, que alimentam estereótipos e mantêm seu verniz cidadão no enfrentamento ao racismo quando a pauta tem um alcance maior, como ora acontece.

Ismya Kariny, estagiária, escreveu várias matérias para o portal O POVO Online. Isso a ajudou a refletir sobre o assunto. "É o olhar, é a questão da vivência, do que é ser negro, do viver ser negro e fazer uma apuração que abrace mais o que o povo negro sente", resume.

Ela, que é estudante do 7º semestre de Jornalismo na Universidade Federal do Ceará (UFC), percebe que "as coisas estão mudando" e há mais negros na Academia, mas "ainda há um desequilíbrio". "Por que a gente traz essas questões apenas para este momento? Quanto às manifestações, tentar pensar isso de forma social, não utilizar o acontecimento como espetáculo. Por que as pessoas estão se manifestando? Por que os negros são os mais mortos?", questiona.

É preciso aproveitar este momento para refletir sobre o que abordamos neste Jornalismo que precisa ser inclusivo, a contribuição que precisamos deixar e o papel de cada um neste processo.

Tratar do racismo - e de seu consequente enfrentamento - é uma pauta que precisa estar na agenda constante dos meios de comunicação, porque não é uma bandeira de um grupo só. Lugar de combate do racismo é de todo mundo, não só de uns em rede social à busca de engajamento nem de meio de comunicação como pose de bastião da cidadania em momentos específicos. É uma revolução cotidiana.

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