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NELSON MANDELA: O ADEUS DO SÍMBOLO DA LIBERDADE
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A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO

NELSON MANDELA: O ADEUS DO SÍMBOLO DA LIBERDADE

A morte de Nelson Mandela, aos 95 anos, em 5 de dezembro de 2013, marcou um momento de grande perda para a África do Sul e para a comunidade internacional. Reconhecido como o principal líder na luta contra o Apartheid, Mandela dedicou décadas à resistência ao regime segregacionista, passando 27 anos na prisão sendo libertado em 1990.
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nesta seção obedecem à grafia da

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UM HOMEM DE PAZ

Ícone da queda do Apartheid e personalidade adorada pelos sul-africanos, Nelson Mandela morreu ontem aos 95 anos. A causa foram complicações decorrentes de uma infecção respiratória. Primeiro presidente negro da África do Sul (de 1994 a 1999), Mandela deixou de ser visto em público desde a final da Copa do Mundo da África do Sul, em julho de 2010. Sua última aparição entre paredes ocorreu em abril passado, quando ele recebeu, na capital Pretória, um grupo de políticos encabeçado pelo presidente sul-africano, Jacob Zuma. As cenas transmitidas pela televisão estatal, em que aparece distante e alheio ao que se passa ao seu redor, causaram comoção no país.

Foi a quarta hospitalização desde dezembro de 2012, quando começou a enfrentar uma crise respiratória. Do lado de fora do Hospital Militar, uma multidão de jornalistas e admiradores mantinha vigília permanente desde o agravamento do seu estado de saúde.

Respeitado internacionalmente pelos gestos de reconciliação, Mandela passou 27 anos preso por se opor ao sistema segregacionista branco. Após intensa pressão internacional, foi libertado em 1990. Saiu do cárcere para negociar com a minoria populacional branca o fim do regime e de lá para ser presidente eleito sob uma nova Constituição.

Em seu governo, adotou como prioridade o discurso de unidade nacional e desencorajou atos de vingança e violência. Analistas apontam que, em razão disso, não conseguiu dar atenção suficiente a programas sociais, à geração de empregos e à epidemia de aids, que se alastrou durante o seu governo.

Em 1999, declinou da possibilidade de concorrer a um novo mandato para, em lugar disso, dedicar-se a causas sociais e a ser uma espécie de consciência moral da nação. Pouco a pouco, no entanto, foi reduzindo a sua visibilidade à medida que a idade avançava.

O anúncio oficial

"Queridos compatriotas, o ex-presidente Nelson Rolihlahla Mandela, presidente fundador da nossa nação democrática, nos deixou (...). Ele agora está em paz. A nação perdeu seu filho mais ilustre", declarou Zuma, em pronunciamento ao vivo, pouco depois das 19h30min de ontem (horário de Brasília). Mandela "se foi em paz (...). Nosso povo perdeu um pai", lamentou Zuma, acrescentando que "nosso querido Madiba terá funerais de Estado".

EDITORIAL

A África do Sul e o mundo inteiro expressam comoventes sentimentos de pêsames pelo desaparecimento do ex-presidente Nelson Mandela, um dos ícones marcantes de nosso tempo. Foi um estadista que dedicou a vida ao resgate do seu povo oprimido e deu uma contribuição imensa para que a própria humanidade procurasse curar-se de uma de suas chagas mais desumanas e abomináveis: o racismo. Ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 1993, Mandela passou 27 anos e seis meses na prisão, até ser libertado, em 1990. Quatro anos depois, era eleito presidente da África do Sul (1994), tendo deixado a presidência em 1999 e se retirado da vida pública em 2004. Nem sempre houve a atual unanimidade em torno de Mandela, que passou grande parte da vida incompreendido e mal visto pelo establishment mundial pelo fato de liderar um movimento revolucionário contra o regime racista da África do Sul (apoiado pelo Ocidente) e seu sistema de apartheid, que tornava a maioria da população (que é negra) segregada em seu próprio país. Só quando o regime se tornou inviável — econômica e politicamente — para as potências ocidentais é que o nome de Mandela passou a ser visto como um mal menor para evitar uma situação de ruptura total. E, de fato, Nelson Mandela correspondeu às expectativas ocidentais e, de dentro da prisão, começou a negociar com o regime racista uma saída política que contemplasse também garantias aos brancos e aos investidores estrangeiros. Aos poucos, ganhou a confiança dos próprios companheiros de partido (Congresso Nacional Africano - CNA), inicialmente insatisfeitos com sua opção conciliatória. Saiu da prisão em 1990 e, desde então, trabalhou para uma transição pacífica, tendo sido eleito, quatro anos depois (1994), o primeiro presidente negro da África do Sul. Nesse ínterim, completou a reconciliação do país por meio da Comissão da Verdade e Reconciliação e, por fim, deu ao país sua primeira Constituição democrática, em 1997. Ao fim de seu mandato, em 1999, deu um belo exemplo de desprendimento ao se recusar a disputar novamente o poder. Ao morrer, deixa um legado que o leva a ser inserido no Panteão dos grandes vultos da humanidade.

A LUTA CONTRA O ÓDIO PELA PROMOÇÃO DO AMOR

Para lutar contra o ódio aos negros, o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, não promoveu o ódio aos brancos. Segundo o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Alcides Vaz, essa é uma vertente muito importante da mensagem e do recado político e cultural de Mandela. "Sendo negro, ele soube também negociar isso. Não houve nenhum sentido de revanchismo, de alimentar qualquer tipo de ódio de negros em relação a brancos. Essa é a grande responsabilidade que cabe aos governos sul-africanos: não admitir nenhuma forma de retrocesso a esse respeito", defendeu.

A professora de relações internacionais da ESPM-Rio, Suellen de Oliveira, destaca o reconhecimento que Mandela teve ainda em vida, com o Nobel da Paz, recebido em 1993. Além disso, em 2009, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 18 de julho, aniversário do líder sul-africano, como o Dia Internacional Nelson Mandela — pela liberdade, justiça e democracia.

"Não foi só a África do Sul que ficou órfã, o mundo todo ficou..."

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