Escreveu livros de literatura fantástica e de contos, como
Escreveu livros de literatura fantástica e de contos, como
Todo mês de novembro escrevo esta mesma croniquinha de aniversário, muitas vezes quase uma cópia de outras, como um cachorro que mija no mesmíssimo pé de se sofá, mesmo sabendo que em casa não tem outro cachorro para lhe concorrer os gastos móveis. Quase ninguém é de 15 de novembro, mas com o tempo e a repetição fui descobrindo outros gatos-pingados do mesmo dia, e formamos quase uma confraria secreta. Uma turminha feliz (ou infeliz, por variados motivos) que nunca comemorou a data com os colegas de sala de aula nem repartição, num feriado garantido para sempre que os frustraram ou aliviaram pelos anos afora.
Quanto a mim, que sempre fui tímido, desses bichos do mato que fogem de algazarras e situações festivas, foram momentos maravilhosos de puro alívio, porém já houve ocasiões de inesperada frustação, momentos de carência em que desejei um pouco de atenção: certa vez cheguei (já contei inúmeras vezes esse episódio tão inexpressivo e particular) para a minha professora (Dona Graça Farias, da Escola de 1º e 2º Graus General Sampaio, em Tamboril-CE) e, do nada, comuniquei, baixinho e sem lhe olhar nos olhos, que no dia seguinte seria meu aniversário; discreta, felizmente, ela não contou para ninguém, mas lá pelas 8 da noite do dia 15 bateu em nossa porta no Alto da Pedrinhas, vinha com um pequeno embrulho na mão e chamou alto o aniversariante, já dando os parabéns num grito alegre. Minha mãe saiu com sua gasta roupa de casa, eu saí atrás com o surrado calção do dia... O constrangimento da falta de luz elétrica, da falta de um mísero bolo para se cantar e bater palmas, da falta de preparo para uma visita tão inesperada e ilustre, virou uma situação hilária das muitas que foram se acumulando no baú das crônicas familiares.
Houve um tempo em que, fanático por aniversários, passava o mês de novembro comemorando; não de forma efusiva, espalhafatosa e festiva, mas discretamente satisfeita, embalada por muita preguiça, perambulações por livrarias e bares, viagens mais demoradas ao torrão natal... Pouca gente tomava conhecimento dessa muda comemoração insana e demorada deste insignificante sujeito, que durava desde o primeiro dia do mês até o ultimo. Quando chegava a semana da data, convidava os amigos em datas diferentes de acordo com os poucos grupos que frequentava (já teve ocasiões em que tentei juntar as castas, mas não deu muito certo) em reunião em casa, bares ou restaurantes.
Para finalizar esta tola crônica umbiguista, lhes garanto que ainda gosto muito dos meus aniversários, embora não tenha maio o mesmo pique para grandes reuniões. Hoje tiro as férias em período próximo para que tenha mais tempo e energia para apenas curtir por aí sem pesos, nem culpas, batendo pernas e dormindo até tarde. Os velhos amigos ainda cobram aquelas festanças regadas a comidas do interior e bebidas fartas: apenas lhes digo que marcaremos um dia para sair prum barzinho qualquer e relembrar a inexorável e cruel passagem do tempo.
Na verdade, depois de uma certa idade não contamos mais o tempo como uma soma, porém como uma subtração: E a esta conclusão chego sem angústia nem tristezas, apenas com uma tranquilidade e conformismo que julgo serem necessários a quem pretenda envelhecer.
Aos poucos os nossos eufóricos aniversários vão se transformando em leves desaniversários.
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