Escreveu livros de literatura fantástica e de contos, como
Escreveu livros de literatura fantástica e de contos, como
"No toca-fita do meu carro/ uma canção me faz lembrar você/
Acendo mais um cigarro/E procuro lhe esquecer."
(Bartô Galeno)
Como fui criado numa cidadezinha perdida nos sertões do nosso Ceará, nada mais natural que o meu gosto musical seja o da época em que era menino, quase virando adolescente. Muita Jovem-Guarda, as tias se revezavam na preferência pelos ídolos: umas "torciam" por Roberto Carlos e menosprezavam os demais, outra achava Paulo Sérgio o verdadeiro "rei" injustiçado, a mais nova (e naturalmente a mais rebelde) rezava juras de amor a Ronnie Von; uma vizinha ainda hoje guarda a fotografia de Wanderley Cardoso na gaveta da cômoda.
Ainda hoje vou a qualquer festa retrô (tertúlia ou vesperal, como se dizia na época) com Luizinho & Banda e tenho saudades das velhas tardes de domingo em que ficava ouvindo e sonhando com uma namorada quase sempre impossível de ser conquistada. Quem já foi adolescente (e quem não foi?) sabe bem do que estou falando.
Mas minha preferência musical é anterior aos cabeludos do iê-iê-iê: vem de quando ouvia rádio a valer e nem sonhava em tomar uma cerveja.
Não raro (digo, quase sempre) os amigos mais novos tomam um susto quando sabem de minha "triste" preferência musical: torcem o nariz, olham meio sem graça (alguns atribuem meu bizarro gosto apenas a uma tentativa de excentricidade dos que gostam de artes).
Por conta disso meus velhos discos, e agora cds, dvds, vivem relegados aos cantos mais escondidos da casa, de onde só saem em raras ocasiões de solidão e cervejinha com amigos mais antigos: um Trepidantes molhado de lágrimas, um Genival Santos estalando de novo, a velha coleção de Bartô Galeno, em seguida vão aparecendo Evaldo Braga, Nilton César, Odair José, Carlos Alexandre, José Ribeiro, Alípio Martins e uma leva de outros mais.
Meu filho mais velho apenas olha desconfiado, dá um sorriso como se perguntando: "O que que é isso, meu pai?", sai balançando desolado a cabeça. Minha filhinha já cantarola, para desespero da mãe, alguns refrãos e adora Eu vou tirar você desse lugar.
A que ponto nós chegamos, os amantes da velha e boa Música Popular Romântica (essa espécie de MPB do B, tão humilhada e relegada aos barzinhos de fama duvidosa): temos que esconder nosso gosto musical apenas para satisfazer essa maldosa classe média mental que precisou criar o triste rótulo de "Brega" para poder cantarolar impunemente no banheiro nossas mais genuínas canções.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.