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Augusto Aras pensa no futuro
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Augusto Aras pensa no futuro

Em artigo publicado na semana passada, Por que o procurador-geral Augusto Aras ataca a Lava Jato?, deixei em aberto a resposta para as possíveis razões de o procurador-geral de República, Augusto Aras, estar em guerra contra a Lava Jato, provocando um racha inédito no Ministério Público Federal (MPF). Ele estaria preocupado com os excessos cometidos pela operação ou age para atender aos interesses do governo do presidente Jair Bolsonaro?

A forma feroz como ele rebateu argumentos de subprocuradores durante reunião do Conselho Superior do Ministério Público Federal (31/7/2020) demonstrou desequilíbrio e autoritarismo e, possivelmente, dificuldade de explicar os objetivos de sua investida contra Curitiba. Existem outros sinais de que ele age mais como subordinado de Bolsonaro e menos como um procurador-geral independente.

Primeiro, foi nomeado pela vontade exclusiva do presidente, que desrespeitou - pela primeira desde de 2003 - a lista tríplice votada pelos procuradores. Depois, aceitou o pirulito com o qual Bolsonaro procurou adoçá-lo: a promessa de uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Aras nem mesmo preocupou-se em dar a resposta standard para essas liberdades, tipo agradecer e dispensar, pois a Procuradoria-Geral exige total independência dos demais poderes.

Agora, integrantes do MPF afirmam que o principal objetivo de Aras não seria podar excessos da Lava Jato, porém subordinar hierarquicamente os procuradores, reduzindo-lhes a independência, e centralizar as investigações da força-tarefa. O propósito seria atender os interesses do governo e seu novo consorte, o Centrão.

Além disso, Aras parece combinar com Bolsonaro no quesito intolerância. Na citada sessão do Conselho Superior do Ministério Público, ele cassou a palavra de colegas e encerrou a reunião abruptamente. Não sem antes fazer comentário machista a respeito da subprocuradora-geral da República Luiza Frischeisen, afirmando que ela não podia avaliar o sofrimento dele ao ver seus parentes vítimas de “fake news”, pois “talvez não tenha família”. Suposta menção ao fato de Frischeisen não ter filhos.

O comportamento de Aras, portanto, deixa muito claro que suas ações tem em vista o futuro. E para que este lhe dê um sorriso supremo, ele não pode desagradar a quem pode promovê-lo.

 

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