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Os 80 anos do assassinato de Leon Trótski
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Os 80 anos do assassinato de Leon Trótski

Nesta sexta-feira (21/8/2020) completaram-se 80 anos do assassinato de Leon Tróstski, um dos principais líderes da Revolução Russa de 1917. Entre a plêiade de revolucionários que derrubaram o czarismo - talvez os mais bem preparados da história -, ele era o único que podia ombrear-se com Vladimir Lênin, tanto na ação quanto na análise teórica.

Surrealismo
Porém, ao contrário de Lênin, cuja vida voltou-se obsessivamente à revolução, no seu sentido mais estrito, Leon Trótski tinha interesses mais amplos. Dedicou-se à crítica literária, à análise artística (assinou o manifesto surrealista de André Breton) e à historiografia. A sua “História da Revolução Russa” é uma obra portentosa, narrando acontecimentos dos quais participou.

Exército Vermelho
Era capaz de realizar tarefas aparentemente impossíveis, como organizar, a partir do nada, uma força armada profissional, como fez com o Exército Vermelho, mas também de preocupar-se com questões aparentemente “menores”, como fez na série de textos escritos na década de 1930, reunidos no livro “Questões do modo de vida”.

Pequenas grandes coisas
Para Trótski, na história “não se faz nunca grandes coisas sem pequenas coisas. Mais exatamente: as pequenas coisas, numa grande época, quando integrada numa grande obra, deixam de ser ‘pequenas coisas'”.

O homem não vive só de política
Em aparente paradoxo para um revolucionário, ele alerta que “o homem não vive só de política”. Por isso defende o “militantismo cultural”, de modo a elevar a educação do proletariado. “É preciso reparar pontes, ensinar a ler e escrever (…) lutar contra a imundície, prender os escroques, levar eletricidade ao campo”.

Rituais e palavrões
Ele se indigna com os péssimos hábitos russos como cuspir no chão ou atirar pontas de cigarros em qualquer lugar. Para ele, agir assim, era “desdenhar do trabalho alheio”.

Critica a mania de seu povo de expressar-se por meio de palavrões; identifica o consumo excessivo de vodka como um problema, comenta a fragmentação que atinge as famílias soviéticas e especula a forma como se poderia alcançar a igualdade entre homens e mulheres.

Investe contra a igreja, mas reconhece que os rituais são parte inseparável da humanidade. Por isso entende que a revolução teria de oferecer um substituto a essas cerimônias.

Burocracia
Leon Trotsky combate a nascente burocracia nos órgãos governamentais e no Partido Comunista da URSS, que teria herdado do passado feudal a grosseria e o desrespeito para com os mais humildes, agregando novos vícios. Defende a necessidade de “atenção e delicadeza como condições necessárias para as relações harmoniosas” (entre as pessoas e entre as pessoas e as instituições do Estado). “A luta contra a grosseria faz parte da luta pela pureza, a clareza e a beleza da linguagem.”

Revolução
Em resumo, Trótski observou que uma revolução, mesmo a mais radical, não produz instantaneamente um “novo homem”, pois não muda automaticamente o modo de vida e a cultura de um povo. Por isso é preciso prestar atenção aos detalhes, às “pequenas” coisas, pois elas são tão importantes quanto à política das “grandes coisas”.

Exílio
Revolucionário desde os 16 anos de idade, Trótski teve uma vida agitada e atravessada por tragédias pessoais. Possível sucessor de Lênin, perdeu a disputa para Josef Stálin, que dirigiu a União Soviética com mão de ferro por 26 anos.

Crítico dos rumos que a revolução estava tomando, Trótski foi afastado da tarefas importantes de governo, passando por uma fase de ostracismo, até ser preso e depois exilado, vagando por vários países. Foi assassinado na México, em 1940, por ordem direta de Stálin.

Lev Davidovich
Seu nome de batismo era Lev Davidovich Bronstein. O codinome Trótski, ele tomou emprestado do sobrenome de um carcereiro que o tratou bem, em uma de suas passagens pela prisão czarista.

Testamento
Em sua carta-testamento, ele deixou escrito: “A vida é bela. Que as gerações futuras a livrem de todo o mal e a gozem em todo o seu esplendor”.

PS. Trechos neste texto são reproduções de uma resenha do livro Questões do modo de vida, por mim publicada em 2013. 

Foto do Plínio Bortolotti

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