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Uma verdade inconveniente para o Capitão Wagner
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Uma verdade inconveniente para o Capitão Wagner

O Capitão Wagner, candidato a prefeito de Fortaleza pelo Pros, surgiu enraivecido em um vídeo de campanha dizendo não admitir “ser caluniado” pela propaganda de seu adversário José Sarto (PDT). “Eu sou um pai de família, me respeitem”, reclamou. Segundo Wagner, a mentira seria dizer que ele liderou motim de policiais militares no Ceará.

Político
A questão é que o candidato pretende afastar-se dos acontecimentos que o fizeram o político conhecido que é hoje, com o objetivo de pagar de bom moço. O objetivo principal é aplicar uma vacina pensando no segundo turno, quando o seu passado voltará a assombrá-lo com mais mais força do que agora, já que restarão apenas dois candidatos, sendo Wagner um deles - a se levar em conta as pesquisas de intenção de voto.

Motins
O Capitão Wagner participou de dois motins de policiais militares no Ceará, um em 2011/2012 e outro neste ano de 2020. Ambos com policiais encapuzados e armados e aterrorizado a população como tática de pressão. (Não é preciso repetir aqui o que aconteceu, basta uma pesquisa superficial para verificar as notícias da época.)

Líder
Porém, a participação de Wagner deu-se de forma diferente nos dois “movimentos”. No primeiro, ele foi o líder inconteste dos amotinados - e nunca reclamou por ser assim retratado por todos os jornais que cobriram a “greve” dos policiais de 2012. Vejam alguns exemplos:

Líder da greve da PM no Ceará diz que quer se candidatar (G1, 30/1/2012, abordando a intenção de Wagner lançar-se candidato a prefeito de Fortaleza).

Líder da greve dos PMs, Capitão Wagner pode disputar Prefeitura de Fortaleza (O POVO, Blog do Eliomar, 6/1/2012).

Líderes de greves polêmicas da PM vencem eleições no Nordeste (Folha de S. Paulo, 8/10/2014, citando a eleição de Wagner à Câmara Municipal de Fortaleza.)

Verdade factual
Além de nunca ter feito qualquer objeção à qualificação de “líder da greve”, utilizada corretamente pela cobertura jornalística, Wagner utilizou-se do fato para catapultar uma carreira política, picado que foi pela mosca azul do poder. Elegeu-se vereador, deputado estadual e deputado federal, sempre montado na popularidade adquirida como líder do motim de 2012. Essa é a verdade factual.

2020
Quando ao motim deste ano, Wagner também teve participação importante. Não mais de linha de frente das ações físicas praticada pelos amotinados, porém na retaguarda, negociando as reivindicações dos policiais militares. Na sabatina do O POVO, quando questionado sobre sua participação no motim desta ano, saiu-se com esta: “Eu mediei os interesses da cidade”.

Ora, por óbvio, ele não era um mediador neutro nas negociações com o governo do Estado. Ele estava ali como representante dos policiais militares amotinados, negociando em nome deles, ou seja, um líder importante da categoria. O fato de os policiais terem recusado a proposta negociada, por divergências internas, não elide o papel do Capitão Wagner como representante dos amotinados.

Prefeitura
Desde que saiu da obscuridade, o objetivo de poder de Wagner, sempre foi a Prefeitura de Fortaleza, como se pode verificar no noticiário. Porém contraditoriamente, para chegar onde almeja, ele precisa apagar um trecho de seu passado que lhe deu popularidade popularidade (2012) e reescrever outro mais recente (2020), de modo a apresentar-se agora como “pai de família”, renegando o seu histórico como líder de violento motim de policiais militares.

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