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Centrão e Bolsonaro: está tudo dominado?
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Centrão e Bolsonaro: está tudo dominado?

Arthur Lira (PP-AL) é o novo presidente da Câmara dos deputados. Candidato apoiado por Jair Bolsonaro, ele derrotou Baleia Rossi (MDB-SP), preferido pelo atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A sorte de Baleia (e de Maia) foi selada quando o DEM, presidido pelo prefeito de Salvador ACM Neto, liberou a bancada na votação. No Senado, foi eleito Rodrigo Pacheco (DEM-MG), também apoiado por Bolsonaro.

Casamento
Com esse casamento entre o presidente da República e o Centrão — Lira é o líder do ajuntamento — Bolsonaro joga no lixo seu mais fulgurante compromisso de campanha: governar sem o famoso tomaladacá, mantendo distância da “velha política”, cujo maior representante era o Centrão, visto como a origem de todos os males, um antro de ladroagem e corrupção, pelo menos à vista do correligionário número zero do chefe do Executivo, o general Augusto Heleno, atualmente chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Em julho de 2018, em uma convenção do PSL (pelo qual Bolsonaro disputou as eleições e depois chutou o partido), o general Heleno fez o seguinte discurso:

“Querem reunir todos aqueles que precisam escapar das barras da lei em um só núcleo, quanto maior melhor, mais eles vão se proteger. E daí surgiu esse Centrão.”

Alguém no auditório grita "lixão", o general retorna:

“É que lixão não dá porque está proibindo, né, pela lei de meio ambiente. Mudou de nome, não pode mais ter lixão (aplausos). Então é Centrão. O Centrão é também a materialização da impunidade. O Centrão vai lutar pela impunidade, vai apresentar, como sempre, um programa de governo cheio de mentiras”. E completou, dizendo que pela primeira vez na vida cantaria alguma coisa que não fosse um “hino pátrio”. E lascou:

“Se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão..” (Risos e aplausos.)

A paródia refere-se à música "Reunião de bacana", de Ari Alves de Souza, o Ary do Cavaco, em parceria com Alberto Di São João, cujo refrão diz o seguinte: “Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão…” *

Ou seja, o Centrão seria um valhacouto de corruptos, ladrões e mentirosos.

Conúbio
O que surgirá desse conúbio ainda está para ser definido. Tanto Bolsonaro poderá ser posto de joelhos pelo Centrão, este valendo-se das ferramentas que, segundo o general Heleno, são próprias desse agrupamento, quanto Bolsonaro poderá impor a sua vontade, se não lhe faltar apoio popular significativo.

O capitão que engoliu os generais
No princípio, os generais também tiveram o sonho de uma noite de verão que poderiam controlar o capitão, porém hoje estão humilhantemente subordinados a ele. Mas há uma boa diferença: os militares podem ser treinados para a guerra, porém falta-lhes traquejo político (noves fora quando se impõem pelas armas).

Profissionais

Com o Centrão o negócio muda de figura, os caras são profissionais da “velha política”. Participaram de todos os governos, com a vantagem de sobreviver a todos, pagando um preço muito baixo, qual seja, ouvir discursos desairosos de políticos que, depois, correm a pedir-lhes socorro, E eles estão lá, à disposição na prateleira. Porém, se pagam pouco, em compensação cobram caro dar proteção a mandatários em dificuldade. 

De qualquer modo, foi uma dupla vitória do governo — e Lira já começou a passar o rodo na oposição —, porém, ainda é cedo para Bolsonaro cantar que está tudo dominado.

Vamos ver no que vai dar.

Uma coisa entretanto é certa: prevalecendo Bolsonaro ou o Centrão ou ainda um (difícil) entendimento perfeito entre eles, desse arreglo coisa boa não sairá. E nada disso acontecerá sem que tremores abalem o Palácio do Planalto.

A propósito, será engraçado ver os bolsonarianos fanáticos justificando as núpcias de Bolsonaro com o Centrão.

* Corrigido às 14h21min de 2/2/2021. Na primeira versão atribuí a música a Bezerra da Silva, que é um de seus intérpretes. Alertado pelo leitor "Medicam2" (veja abaixo) de que a música seria de Ary do Cavaco, pesquisei mais e verifiquei que a composição é de fato de Ary, em pareceria com Alberto Di São João, de acordo com informações do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Agradeço ao leitor pelo alerta.

Foto do Plínio Bortolotti

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