Extrema direita subverte conceitos sobre direitos humanos e liberdade de expressão
Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Extrema direita subverte conceitos sobre direitos humanos e liberdade de expressão
Algumas bandeiras tipicamente dos liberais e da esquerda, como a liberdade de expressão e o respeito aos direitos humanos foram sequestradas pela extrema direita. Sim, é preciso diferenciar o que é a direita — que opera dentro das regras democráticas — e a extrema direita, que se utiliza dos instrumentos da democracia para esmagá-los.
Iluminismo A liberdade de expressão e os direitos humanos são benéficas herança do Iluminismo (séculos XVII e XVIII), que vêm sendo subvertidos pela extrema direita. Os extremistas não deblateram mais contra a liberdade de expressão, mas a reivindicam para disseminar o discurso do ódio, do racismo, da homofobia, da xenofobia e da discriminação.
“Humanos direitos” Quanto aos direitos humanos, a forma como os veem pode ser resumido na seguinte frase: “Direitos humanos para humanos direitos”, quando a característica fundamental desse preceito é proteger a todos, mesmo os criminosos, de situações degradantes. Fora disso não haverá civilização.
“Cidadão de bem” Do mesmo modo, a liberdade de expressão seria prerrogativa exclusiva dos “cidadãos de bem”, categoria reservada àqueles que rezam pela cartilha da extrema direita e recitam o slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, porém negada aos “desviantes”, seja do ponto de vista político ou comportamental.
Alemanha acima de tudo A propósito, o lema da candidatura de Bolsonaro foi inspirado no grito de guerra de um grupo de paraquedistas militares, que o adotou no fim da década de 1960, o período mais duro da ditadura militar, e ecoa o verso usado pelos nazistas “Alemanha acima de tudo”.
Privacidade De minha parte, entendo que a liberdade de expressão tem de ser a mais ampla possível, inclusive deve proteger quem faz críticas ácidas ou mesmo desrespeitosas a autoridades. Quem se dispõe a ocupar um cargo público — seja no Executivo, Legislativo ou no Judiciário, automaticamente abre mão de parte de sua privacidade, expondo-se, inclusive, a comentários desairosos, quanto à sua atuação.
Ameaça Um dos limites à liberdade de expressão é quando quem ameaça tem condições de cumprir a intimidação. Um exemplo claro foi o tal foi o grupo de extrema direita “300 do Brasil”, liderado por Sara Winter. Era um grupelho (não chegava aos 300 pretendidos), mas mobilizaram-se para jogar fogos de artifício sobre a sede do Supremo Tribunal Federal (STF). Poderiam ir além, caso não fossem barrados, pois trata-se de uma gangue de fanáticos.
Internet A questão, portanto, é definir quando o ameaçador tem condições de cumprir o seu intento. Se antes uma palavra perdia-se em um meio de comunicação impresso e passado 24 horas, já estava nos arquivos, com a internet o poder mobilizatório ampliou-se de forma demasiada.
É relativamente simples um “youtuber”, com uma palavra, pôr em marcha centenas e talvez milhares de seguidores. Assim, um discurso de incitação à violência é apenas um discurso ou tem o poder de mobilizar pessoas para cumprirem o plano verbal?
Soldadinhos Entretanto, essa reconceituação acanalhada da extrema direita a respeito dos direitos humanos e da liberdade de expressão mostra-se eficaz, pois dá argumentos às bases extremistas, ainda que no papel de mero repetidores de chavões. O que, de qualquer forma, está na média da inteligência desses obedientes soldadinhos, sempre necessitados de um “mito” para guiá-los.
Meios digitais No mais, a extrema direita compreendeu muito mais rapidamente do que a esquerda o poder dos meios digitais de comunicação, usando-o com tenebrosa maestria.
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