Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Os “cidadãos de bem” que defendem o massacre promovido pela Polícia Civil no Rio de Janeiro, na favela do Jacarezinho, provavelmente tenham considerado castigo bem dado a dois pretos pobres entregues a traficantes para serem executados, depois de terem furtado carne no supermercado Atakarejo, em Salvador.
(Como sempre acontece nesses casos as empresas dão uma desculpa qualquer e fica por isso mesmo, até um novo caso que, com certeza, infelizmente, vai acontecer. Lá ou em qualquer outro lugar, pois nessas empresas atua uma “segurança” despreparada, violenta e preconceituosa, que bate, tortura e mata, sob a condescendência do contratante.)
Mas podem existir alguns desses cidadãos um pouco mais “sofisticados” que talvez tenham condenado a entrega dos dois jovens para serem mortos por traficantes em Salvador (não sem antes lembrar que eles fizeram uma coisa “errada”), mas defendem a ação da polícia do Rio de Janeiro.
Mas o caso é que as duas situações fazem parte do mesmo fenômeno: o racismo estrutural que permanece no Brasil e a criminalização como “tudo bandido” dos pobres e das áreas periféricas e marginalizadas das grandes cidades. Como canta Elza Soares, “a carne negra é a carne mais barata do mercado”.
São as eternas “classes perigosas”, que têm se ser afastadas para lugares cada vez mais distantes ou, melhor, terem, de vez, o “CPF cancelado”, para usar a linguagem acanalhada de milicianos digitais, que emulam nas redes o que a versão real desse tipo de “vagabundo” faz na prática.
Como é possível classificar como “exitosa” uma operação que promoveu um banho de sangue, terminando com uma comunidade traumatizada, e com a morte de 29 pessoas (um deles policial)? Como é possível considerar normal que um suspeito seja executado na presença de uma criança de nove anos, deixando poças de sangue no quarto dessa menina? Como é possível crer que as citações positivas ao governador do Rio de Janeiro nas redes sociais tenham aumentado depois do massacre?
A única explicação possível é aceitar que vivemos em uma em uma sociedade doente e brutalizada, cujos baixos instintos são incentivados por alguns “homens públicos” e governantes, a começar pelo principal deles.
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