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Massacre no Jacarezinho: a sociedade doente se manifesta
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Massacre no Jacarezinho: a sociedade doente se manifesta

Trecho do meu artigo Massacre no Rio revela uma sociedade doente foi publicado no Instagram do O POVO, procedimento que o setor de Mídias Sociais faz regularmente com textos divulgados nos vários segmentos do jornal. No artigo, faço análise sobre o massacre ocorrido na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, que provocou a morte de 28 suspeitos e um policial civil. O trecho reproduzido no Instagram foi o seguinte:

«Como é possível classificar como “exitosa” uma operação que promoveu um banho de sangue, terminando com uma comunidade traumatizada, e com a morte de 29 pessoas (um deles policial)? Como é possível considerar normal que um suspeito seja executado na presença de uma criança de nove anos, deixando poças de sangue no quarto dessa menina?»

O questionamento central do artigo é que para se chegar a esse ponto de estupidez era preciso reconhecer que a sociedade estava doente. Textualmente:

«A única explicação possível é aceitar que vivemos em uma em uma sociedade doente e brutalizada, cujos baixos instintos são incentivados por alguns “homens públicos” e governantes, a começar pelo principal deles.»

Comentários
Normalmente, não acompanho respostas deixados nas redes sociais. Porém, um amigo me passa um Whatsapp dizendo-se horrorizado com os comentários que lera a respeito do que escrevi.

Fui até o post, no qual havia 375 comentários (até 7h de 13/5/2021), a grande maioria deles com ataques e xingamentos pessoais, alguns chamando o massacre de "faxina" e outros achando que a polícia “matou pouco”.

Vejamos alguns exemplos (não vou identificar quem escreveu para não dar mais cartaz a esse tipo de gente). A reprodução é literal:

>>> Jornalistas imundos!!!

>>> Parabéns aos policias, tinha que ser 2 dessas por semana no mínimo, aqui no Ceará tbm seria muito bom...

>>> As vezes eu fico com vontade de para de segui esse jornal, mas infelizmente preciso dele.

>>> Vcs vão ficar igual a globo. Sem credibilidade nenhuma!

>>> Uma operação exitosa SIM, parabéns aos envolvidos. (Com emojis de aplausos.)

>>> Parabéns aos POLICIAIS

>>> Eu acho q se os dois lados estão armados é o princípio da guerra justa tlgd, só que um foi mais bem treinado e fodase

>>> Parabéns pela faxina!!!! (com muitos emojis de aplausos.)

>>> AOS POLICIAIS MEUS PARABÉNS AQUI NO CEARA ERA PRA TER UMA OPERAÇÃO DESSAS A CADA DOIS DIAS! SERIA SENSACIONAL (com muitos emojis de aplausos.)

>>> Matou foi pouco.

>>> Parabéns aos heróis policiais ... Quem tiver achando ruim como esse jornaleco é só passar lá e levar um pra casa. Ainda ficaram alguns.

>>> Sociedade doente? Doente é quem pensa dessa forma, quer tratar bem bandidos? Melhor levá-los pra sua casa.

>>> KKKKKKKKKKKKKKK o cara passa 4 anos em uma faculdade pra defender bandido

>>> Jornaleco, cada um de vocês adota um bandido!

>>> Escreveu pouco, mas escreveu bosta... parabéns Plinio, a cada opinião dessa, as pessoas passam a acordar, ninguém aguenta mais essa hipocrisia.

Violência
De princípio vi nessas respostas a comprovação de que a sociedade está, de fato, doente, ou pelo menos uma boa parte dele, pessoas que gozam com morte, não têm um mínimo de empatia com milhares de pobres que moram em favela, e pensam que vão resolver o problema segurança pública na base da violência, sem olhar para os problemas sociais.

Mas, de modo geral, quem se manifesta nos comentários escreve por discordar do que lê. E o ser humano, naturalmente, é muito mais tendente a reclamar do que a elogiar. Assim, quem concorda, sente-se representando e não se preocupa em expressar sua opinião.

No entanto, as rede sociais oferecem outra ferramenta para aferir a concordância com determinado tema, as “curtidas”, tendo o meu texto registrado 2.894 delas, ou seja, de pessoas que concordam com o que escrevi.
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Que isso venha ser o indicativo de que podemos ter um pouco de confiança em um futuro em que a vida será mais justa, mais igualitária, sem violência e sem preconceitos.

Foto do Plínio Bortolotti

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