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Girão e Heinze: senadores não gostam de artigo e acionam a polícia para intimidar autor do texto
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Girão e Heinze: senadores não gostam de artigo e acionam a polícia para intimidar autor do texto

Pressão, xingamentos e violência contra a imprensa já são por demais conhecidos, principalmente partindo do Poder Executivo, à frente Jair Bolsonaro. Na sequência, saem à campo paus mandados do presidente, também conhecidos como ministros, para abrir processos contra quem ousa criticar Bolsonaro, considerado intocável em suas palavras e atos, pois “mito”.

Poste-geral da República
Até o procurador-geral da República, Augusto Aras, entrou nessa ameaçadora dança. Ele apresentou queixa-crime contra Conrado Hübner Mendes, colunista da Folha de S. Paulo (FSP), por chamá-lo de “poste-geral da República" em suas redes sociais, e ainda representou contra ele no Conselho de Ética na Universidade de São Paulo (USP), onde o professor dá aula. O procurador-geral também não gostou do artigo "Aras é a antessala de Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional" (26/1/2021), no qual o professor escreve:

“Augusto Aras integra o bando servil. Enquanto colegas de governo abrem inquéritos sigilosos e interpelam quem machuca imagem do chefe, Aras fica na retaguarda: omite-se no que importa; exibe-se nas causas minúsculas; autoriza o chefe a falar boçalidades mesmo que alimente espiral da morte sob o signo da liberdade”.

Polícia do Senado
A novidade é que agora essa caça a quem ousa manifestar a sua opinião começa a contaminar o Parlamento, infelizmente partindo do Senado, a Câmara Alta do legislativo brasileiro. E, pior ainda, por iniciativa do senador cearense Eduardo Girão que, com o colega sul-riograndense Luiz Carlos Heinze, acionaram a Polícia do Senado na tentativa de intimidar o sociólogo Celso Rocha de Barros, Eles puseram a polícia no encalço do articulista devido ao artigo «"Consultório do Crime" tenta salvar Bolsonaro na CPI da Covid» (9/5/2021). Escreve Barros:

«Se no Rio de Janeiro Bolsonaro era amigo do chefe da milícia “Escritório do Crime”, na CPI é defendido pelo que podemos chamar de “Consultório do Crime”, um grupo de senadores que buscam tumultuar a investigação mentindo sobre medicina. Seus principais representantes são Eduardo Girão (Podemos-CE) e Luiz Carlos Heinze (PP-RS). Girão e Heinze mentem sobre a eficácia da cloroquina, mas o curandeirismo presidencial não é o principal crime que tentam acobertar.»

E continua:

«Se os bolsonaristas defendem as execuções no Jacarezinho (no Rio de Janeiro) porque alguns dos mortos eram suspeitos de crimes, o que defendem que se faça com o assassino de, na estimativa mais camarada, cem mil brasileiros? Eu só peço cadeia. E cadeia eu exijo.» (O “assassino” de cem mil brasileiros, segundo o artigo, seria o presidente Jair Bolsonaro.)

Liberdade de expressão
São palavras duras, mas quem se arrisca na vida pública adquire um pacote completo com os bônus e ônus decorrentes da atividade. A liberdade de expressão é, fundamentalmente, o direito que o outro tem de dizer aquilo que eu não quero ouvir, inclusive ofensas, principalmente quando se trata de pessoas que exercem atividades públicas.

No programa Debates do Povo (rádio O POVO/CBN) me defronto com bolsonarianos que me apontam como o próprio exemplo de que existe a liberdade de imprensa no Brasil, pois, mesmo com as críticas acerbas dirigidas ao governo e ao próprio presidente Bolsonaro, eu não sou preso e continuo falando, dizem eles. (No raciocínio tortuoso desses caras, talvez eu até devesse até agradecer ao governo por me permitir falar.)

Ditadura
O caso é que a censura não é mais hoje como na ditadura, em que jornalistas mais abusados, ou críticos do regime, iam direto para a cadeia, onde eram torturados e mortos. Atualmente, os autoritários, candidatos a ditador, ou simples bajuladores do poder, escondem-se atrás da “legalidade” e chamam a polícia para “investigar”. Outros, para não sujar as mãos, insuflam suas milícias para agredirem jornalistas em pleno exercício de seu trabalho.

Mas não seráo isso que vai deter o jornalismo e nem a oposição crescente ao governo.Como nos lembra o escritor Graciliano Ramos, o importante é resistir:

“Liberdade completa ninguém desfruta, começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer”.

Foto do Plínio Bortolotti

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