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Manifestações contribuem para conter ímpeto ditatorial de Bolsonaro
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Manifestações contribuem para conter ímpeto ditatorial de Bolsonaro

A manifestação “fora Bolsonaro”, que reuniu milhares de participantes em todo o país, acrescenta mais um elemento à equação que costuma levar presidentes da República ao impeachment, segundo alguns analistas: os protestos massivos. A esquerda e setores democráticos independentes deram as caras nas ruas depois de um ano de recolhimento, devido ao isolamento imposto pela pandemia da Covid-19.

Termômetro
O presidente Jair Bolsonaro, porém, ainda não estourou o termômetro em pelo menos umas das pré-condições para o impeachment, que é a perda do apoio Legislativo, desde que mercadejou o apoio do Centrão, que transformou-se no sustentáculo da extrema direita no Parlamento.

Corrupção
Os outros elementos seriam crise econômica, que já se abateu sobre os mais vulneráveis com desemprego e aumento da miséria; e a corrupção que já mostra explicitamente a sua cara, desde que se descobriu que a “boiada” do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, vai além do método “parecer, caneta” para favorecer o liberou geral para os madeireiro ilegais. (Afora a mansão de R$ 6 milhões do filho “01” do presidente, o senador Flávio Bolsonaro.)

Esperto
Porém, Bolsonaro pode não ser inteligente, mas é esperto. Desde o princípio devia saber que governar não era para gente do tipo dele, mais afeitas à destruição. Por isso, adquiriu um seguro-mandato, entupindo seu governo de militares — estima-se que sejam em torno de sete mil, espalhados nas mais diversas áreas —, além de conceder aos fardados benesses na reforma da Previdência e o privilégio de acumular salários acima do teto do funcionalismo.

O “meu Exército”
Assim, ele ganhou o direito de referir-se ao Exército brasileito como “meu Exército”, como se propriedade particular fosse, sem que nenhum general tenha a dignidade de chamar-lhe atenção. Da mesma forma, o “alto comando” da Força mostra sua tibieza temendo aplicar uma pena exemplar ao insubordinado general da ativa Eduardo Pazuello, por ter participado de um ato político ao lado do presidente.

Os bambos generais negociam uma pena branda com o presidente, mas nem isso Bolsonaro está aceitando, para o presidente, a humilhação só serve se for completa. (O alto comando é composto por 16 generais, nos mais altos postos da carreira.)

Milícias
Some-se a isso a milicianização que vem tomando conta de um setor expressivo da Polícia Militar, e o fato de os governadores não controlarem a PM. Basta ver o que aconteceu em Recife, com a PM barbarizando contra manifestantes do ato “fora Bolsonaro”. Esses fardados sediciosos têm o total apoio de bolsonarianos. Imaginem, portanto, o caldo venenoso que está sendo cozinhado para as eleições de 2022, com o presidente pondo em dúvida o processo eleitoral, dizendo que só aceita um resultado: a sua própria vitória.

Água no moinho
Por isso, justificam-se as manifestações de rua para conter os arreganhos ditatoriais de Bolsonaro. Ao mesmo tempo é injustificável que segmentos políticos democráticos, em um momento como esse, joguem água no moinho bolsonariano ajudando-o na tarefa de pôr em dúvida a segurança das urnas eletrônicas. A propósito, Bolsonaro já disse que apresentaria “prova” de fraude nas eleições de 2018: não mostrou até agora nem mesmo uma evidência, pois não as têm — é apenas mais uma mentira.

Constituição
Para tranquilizar os eleitores que, envergonhadamente, ainda acreditam nele (os sem-vergonhas da extrema direita não precisam de desculpa), Bolsonaro garante que seu Exército particular não vai agir fora das “quatro linhas da Constituição”.

Porém, Bolsonaro nunca deve ter lido a Carta Maior, pois o livro não tem figuras. Assim, ele acredita na interpretação de botequim que a Lei Maior admite intervenção das Forças Armadas na democracia, como “poder moderador”.

Amigo do vírus
Manifestantes que foram à ruas, a imensa maioria usando máscaras e, em alguns lugares com distanciamento, levantaram uma palavra de ordem para explicar porque estavam na rua, em plena pandemia:

“Bolsonaro é mais perigoso do que o vírus”. Faz sentido.

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