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Gabinete paralelo é traição
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Gabinete paralelo é traição

Um dos resultados da Comissão Parlamentar de Inquérito — a CPI da Pandemia — que se desenvolve no Senado, é a comprovação que o presidente da República, Jair Bolsonaro, valia-se de de uma equipe de conselheiros para orientá-lo nas ações para enfrentamento da crise sanitária. Até aí parece bastante aceitável, não deve ter existido um único governante em todo o mundo, em todos os tempo, que não tenha se valido de tal expediente.

Porém, no caso em tela, o bicho começa a pegar quando se observa que esses assistentes, sem nenhum cargo formal do governo, funcionavam como uma espécie de “ministério paralelo” e sempre em confronto com as orientações oficiais da Saúde, como se pôde observar pelos depoimentos do ex-ministros Henrique Mandetta (um político) e de Nelson Teich (um técnico), ambos médicos. Mandetta esticou a corda até onde pôde para contrapor-se à sabotagem do Palácio do Planalto; Teich não aguentou nem um mês, saiu por discordância com a insistência de Bolsonaro em receitar cloroquina e pela absoluta falta de autonomia para tocar o ministério.

Mas esse confronto com as orientações oficiais do Ministério da Saúde, baseada em evidências científicas continuou mesmo quando a pasta foi ocupada pelo general (da ativa) Eduardo “um manda outro obedece" Pazuello. Sem coragem de aplicar abertamente o pacote completo dos negacionistas, preparado por Bolsonaro e seu gabinete paralelo, Pazuello mantinha, pelo menos formalmente, as medidas não farmacológicas de combate ao coronavírus, ao tempo em que compactuava com as investidas de Bolsonaro que incentivava a população a se aglomerar, sem o uso de máscaras, para espalhar a contaminação.

Entre os “conselheiros” mais destacados do presidente, estava a médica Nise Yamaguchi, cuja preocupação maior era defender o uso da cloroquina como “tratamento precoce”, enquanto punha em dúvida a eficácia das vacinas e defendia a “imunidade de rebanho”, como se pôde ver em vídeos exibidos durante o seu depoimento à CPI na terça-feira, apesar de suas negativas.

O resumo é o seguinte: ter conselheiros, ok, substituir o ministério por um gabinete paralelo para promover uma política genocida é traição aos brasileiros.

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