Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
“Eu me vejo como um assessor qualificado do presidente, um homem próximo ali, junto dele, dentro do Planalto, ali do lado dele, nossas salas serão juntas. Não seremos duas figuras distantes, como já aconteceu, um para o lado e o outro para o outro lado. Aquelas reuniões que ocorrem ali, eu estarei presente." (De um exultante general Hamilton Mourão, na época candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, maio de 2018.)
“Sim, sinto falta. Sinto falta. A gente fica sem saber o que está acontecendo. É importante que a gente saiba o que está acontecendo, né? Paciência, né? C'est la vie [é a vida], como dizem os franceses.” (De um choroso Mourão, mendigando participação em reuniões ministeriais, junho de 2021.)
Quem introduziu a expressão “vice decorativo” no vocabulário político foi o inolvidável presidente Michel Temer, que assumiu a chefia do Executivo depois de conspirar para derrubar a presidente Dilma Rousseff, que o fazia sentir-se como bibelô de prateleira.
No ano I da República Tosqueira, Mourão ainda se equilibrou, transformando-se em queridinho de jornalistas, pelos bons modos solenes que demonstrava com os coleguinhas, típico de um homem da caserna que faz curso de media training (treinamento para falar com jornalistas).
Mas a loquacidade de Mourão começou irritar o presidente. Ele chegou a sugerir estar preparado para assumir a Presidência, se fosse preciso. Chacoalhou a rede miliciana digital. Imperdoável, uma traição
Assim, sendo indemissível, restou a Bolsonaro mandar Mourão para uma ponta da praia simbólica, vetando sua participação nas reuniões ministeriais. O vice faz parte do conselho de governo, com direito a assento nas reuniões, mas o capitão dribla o general fazendo encontros com seus ministros sem registrá-las na agenda oficial.
Dessa forma, o sonho do general de ser uma espécie de tutor de Bolsonaro durou apenas um devaneio, demolido por duas ou três declarações que desagradaram o chefe. O vice foi seduzido e abandonado, como aconteceu com outros menos afortunados, por demissíveis.
Se Temer teve a sua vingança contra quem supostamente o desdenhou, a Mourão restará ficar choramingando pelos cantos, humilhado até o fim do mandato. Merece.
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