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Pedido de impeachment de ministro do STF aumenta crise política
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Pedido de impeachment de ministro do STF aumenta crise política

Com todas as críticas que se possa fazer ao STF, e há várias, a Suprema Corte vem se mostrando como a última linha de defesa da democracia brasileira.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, protocolou (ou “protocolizou” como querem os gramáticos reacionários ;) um pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

No mesmo dia, a Polícia Federal varejou os endereços de dois aliados de Bolsonaro: Roberto Jefferson (presidente do PTB) e do deputado federal Otoni de Paula (PSL-RJ), suspeitos de praticar crimes contra o Supremo.

Diferentemente do anunciado pelo próprio Bolsonaro, o pedido deixou de fora o ministro Roberto Barroso. O presidente preferiu mirar em Moares, pois ele é o responsável pelas ações que correm no Supremo contra aliados de Bolsonaro e que podem atingir o próprio presidente.

No mais, é típico da tática de extrema direita escolher um inimigo específico, de modo a facilitar o discurso a ser repetido pela milícia digital, que necessita de palavras de ordem simples, devido à sua parca capacidade de pensamento e de análise.

O pedido de impeachment, ao contrário do que o presidente planejara, foi feito sem pompa e sem circunstância, já que hoje (20/8/2021), uma sexta-feira, é dia em que o Congresso está esvaziado. Portanto, em vez de um enxame de ministros e outros áulicos, a protocolização foi apenas um processo burocrático, realizado por um estafeta do Palácio do Planalto.

Por sua vez, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), aliado de Bolsonaro — a quem caberia dar sequência ao pedido — já avisou que “não é o momento” de pedir o impeachment de ministros do STF. E provavelmente nunca será durante o seu mandato.

De qualquer modo, não é desprezível esse ato inédito de um presidente da República, pois demonstra a sua intenção de continuar tensionando o ambiente político, a única forma que ele conhece de manifestar-se politicamente.

A situação é preocupante porque o pacote do pedido de impeachment inclui a ameaça de Bolsonaro de descumprir alguma ordem do STF, secundado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que disse estar chegando a hora de fazê-lo. Eduardo vem a ser aquele filho do presidente, o zero qualquer coisa, que um dia ameaçou fechar o Supremo com “um cabo e um soldado”.

Ao mesmo tempo, as redes bolsonarianas fervilham de ameaças contra o Supremo e até ameaça de invasão de sua sede, em manifestação no dia 7 de Setembro. Talvez querendo antecipar o ato que o ex-presidente dos Estados Unido, Donald Trump, perpetrou — incentivando a invasão do Congresso americano — quando se viu obrigado a deixar a Casa Branca

Já escrevi, reescrevo e mantenho o assunto em pauta: o habitat de Bolsonaro é o caos, o elemento natural no qual se movem espécimes de sua cepa.

Em uma situação dessas, com todas as críticas que se possa fazer ao STF, e há várias, a Suprema Corte vem se mostrando como a última linha de defesa da democracia brasileira.

É preciso, portanto, que o Congresso tenha um papel mais ativo nesse sentido. Esperar que Bolsonaro mude de comportamento é ser complacente com seu propósito minúsculo de instalar-se como ditador.

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