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Hipocrisia foi a marca do discurso de André Mendonça no Senado
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Hipocrisia foi a marca do discurso de André Mendonça no Senado

A frase "Um passo para um homem, um salto para os evangélicos" desmonta o discurso aos senadores e dá pista, negativa, de como o novo ministro do STF pretende comportar-se como magistrado.

Quem assistiu à sabatina de André Mendonça na Comissão de Constituição e Justiça no Senado — que o elevou à cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal — teve a impressão de que ele ficou em casa e mandou um clone em seu lugar para responder às perguntas.

Guarda
De cão de guarda do presidente Jair Bolsonaro, quando ocupou ocupou o posto de ministro da Justiça, ele compareceu ao Senado vestindo a pele de cordeiro: razoável, cordato, procurando agradar a deus e ao diabo; a direita e a esquerda; progressistas e conservadores nos costumes. Para todos tinha uma palavra certa, estudada, o que deve ter-lhe custado boas horas de “media training”.

Casamento gay
Ele não piscou nem mesmo quando abordou o casamento entre pessoas do mesmo sexo — uma abominação paras os terrivelmente evangélicos — prometendo ao senador Fabiano Contarato (Rede Sustetabilidade), homossexual declarado, casado com outro homem, pai de dois filhos, que, como ministro do STF, defenderia “o direito constitucional do casamento civil das pessoas do mesmo sexo”.

Contradições
O portal de notícias Congresso em Foco (1º/12/2021) fez um levantamento mostrando que o posicionamento de Mendonça no Senado revelou-se contrário à sua prática como ministro e como advogado geral da União, tendo ido além de suas atribuições para ser agradável ao presidente Jair Bolsonaro. Veja.

1. Liberdade de imprensa
Em seu depoimento, defendeu a liberdade de imprensa, como ministro pediu abertura de inquéritos contra repórteres que escreveram críticas a Bolsonaro.

2. Armas
Ao Senado — sob o argumento que teria de julgar decretos do presidente que facilitam a compra e o porte de armas — não se posicionou sobre o assunto. Como ministro, revogou a exigência de identificação sigilosa em armas semi automáticas utilizadas pela Força Nacional, o que dificulta o rastreio.

3. Democracia
Defendeu a democracia frente aos parlamentares, mas, em 2019, como advogado geral da União pediu autorização para operações policiais em universidades para apurar supostas irregularidades eleitorais e coibir o “viés ideológico” dos professores.

4. Dossiê
Ainda no terreno do desrespeito à democracia, como ministro da Justiça, mandou produzir um dossiê sigiloso sobre opositores do presidente.

A Bíblia e a Constituição
Uma das principais frases de Mendonça durante a arguição, com a qual ele procurou afugentar qualquer dúvida de que o magistrado não se misturaria com o religioso, foi: “Na vida a Bíblia; no STF a Constituição”.

Um passo e um salto
Porém, mal livrou-se dos senadores, enunciou para os adeptos que aguardavam ansiosamente pelo resultado da votação: “Um passo para um homem, um salto para os evangélicos”.

Discurso treinado
A frase é reveladora de seus propósitos e desmonta praticamente todo o discurso treinado que o ministro apresentou durante a sabatina. Essa e outras contradições insanáveis entre suas palavras e seus atos, revelam-no como grande hipócrita.

Distância
A distância entre palavra e gesto, a hipocrisia, é condenada em mais de uma dezena de passagens da Bíblia. Jesus tinha palavras especialmente duras para os fariseus, o exemplo acabado de hipócrita, aquele que se preocupa mais com a forma do que com o conteúdo da fé.

Mateus
Essa passagem de Mateus (23, 1, 2,3) encaixa-se perfeitamente na perfomance do novo ministro Supremo Tribunal Federal e ao governo ao qual serviu (continuará servindo?):

«Então, falou Jesus à multidão e aos seus discípulos, dizendo: “Os escribas e fariseus sentaram-se na cadeira de Moisés. Observai e fazei tudo o que eles dizem; mas não façais como eles, pois dizem e não fazem”.» (Mateus 23, 2, 3.)

Foto do Plínio Bortolotti

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