No artigo anterior Entendendo o Capitão Wagner anotei que ele se tornara um personagem político importante, com possibilidade de ser eleito o próximo governador do Ceará. Fontenele, um dos meus leitores (sim, eu os tenho) perguntou o que ele fizera como vereador, deputado estadual e deputado federal para que eu o considerasse como tendo “destacada atuação política”.
Respondi que o destaque político de Wagner (União Brasil) era inegável, caso contrário, não teria chegado aonde chegou, firmando-se como o principal nome de oposição aos Ferreira Gomes e da (hoje desfeita) aliança PT/PDT, que governava o Ceará. Acrescentei que uma análise tem de ser feita com base na realidade. A partir desta premissa, respeito à verdade factual, a interpretação é livre.
Com base na pesquisa Ipespe, contratada pelo O POVO — que o põe em primeiro lugar na disputa, com 38% das intenções de voto, acima de seus dois principais adversários, Roberto Cláudio (28%) e Elmano de Freitas (13%) —, registrei que Wagner poderia vir a ser o novo governador do Ceará.
Nesse aspecto, fui contestado por Vladimir Aires, com o qual sempre troco ideias pela caixa de comentários, recebendo ele apoio de outro leitor, o “RIC”. Para ambos, o vencedor do segundo turno será Elmano, devido aos apoios que receberá, principalmente, de Lula e do ex-governador Camilo Santana (PT).
Em minha defesa digo que não cravei a vitória de Wagner, o que escrevi é que ele estará no segundo turno, portanto, “pode” vir a ser o novo governador do Ceará. (Na redação do O POVO, quando um colega escreve um título dizendo “...tal coisa pode acontecer”, sempre há alguém para lembrar: “O que pode também não pode…” :)
Feitas essas observações, os leitores acertam quanto à importância dos padrinhos políticos nesta eleição, que tende a se “nacionalizar”, repondo o confronto nacional Lula x Bolsonaro em cada estado. Nessa perspectiva, Wagner está em grande desvantagem, devido à sua ligação com o presidente da República. Bolsonaro é o pior cabo eleitoral no Ceará. Em contrapartida, o apoio de Lula e Camilo são vistos como positivos pelos eleitores, favorecendo Eumano.
Segundo a pesquisa Ipespe, 43% dos eleitores responderam que o apoio de Bolsonaro reduz a chance de votar no candidato apoiado por ele; para 33% em nada altera e para 17% a possibilidade aumenta.
Quando ao ex-presidente Lula, 50% responderam que a chance de votar em um candidato com apoio dele aumenta; para 21% diminui e para 25% não faz diferença.
O ex-governador Camilo Santana também é bem avaliado nesse quesito: 48% respondem que aumenta a chance de votar em um candidato apoiado por ele; outros 32% dizem que nada altera e para 15% diminui a possibilidade de voto.
Elmano tem dois apoios importantes, que podem alavancar candidatura. Se será suficiente para levá-lo ao segundo turno e, em seguida à vitória, é uma questão em aberto, com o processo eleitoral em andamento.
Quanto a Wagner, a atuação dele com relação ao seu padrinho, o presidente Bolsonaro, seu movimento será o de afastar-se dos afagos presidenciais, apelando para o discurso de que é preciso debater as questões relativas ao Ceará. Mas o problema, para ele, é que cada vez mais eleitores ligam uma coisa a outra.
Fica cada vez mais evidente que o cargo de presidente da República tem de ser ocupado por um nome que tenha um mínimo de decoro e disponha de razoável capacidade administrativa. E que, acima de tudo, respeite as instituições, sendo um adepto, sem ressalvas, da democracia. Sem isso será impossível dar um rumo ao País. É isso que está em jogo nas eleições deste ano. Até mesmo a elite brasileira, uma das piores do mundo, já percebeu isso, ou pelo menos um segmento importante dela.
(Aguardo a tréplica dos leitores :)