Plínio Bortolotti integra o Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Por que a maioria apoia operações letais nas favelas?
Se fosse aplicada nas comunidades uma política inspirada nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), os moradores não seriam obrigados a escolher entre operações violentas e ineficazes e a brutalidade das facções
Foto: PABLO PORCIUNCULA / AFP
O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (à esquerda), fala durante uma coletiva de imprensa sobre a Operação Contenção realizada nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, Brasil, em 28 de outubro de 2025.
Não sou negacionista de pesquisas, nem tenho motivos para duvidar da informação que a maioria dos moradores de favelas do Rio de Janeiro apoia a “megaoperação”, que deixou um rastro de mais de uma centena de mortes, “a mais letal operação policial da história”, do Rio ou do Brasil, dependendo de onde se lê a manchete.
Quem vive sob as ordens das facções, submetido ao arbítrio criminoso — pagando mais caro em uma ligação da internet ou em um botijão de gás — quer se livrar dessa opressão de qualquer maneira, e ninguém pode julgá-los por isso.
Quanto às pesquisas, se organizadas com a metodologia correta, elas costumam dar indicações importantes sobre os mais diversos assuntos.
No entanto, os institutos sabem que a resposta depende da pergunta. Assim, duas sentenças parecidas, mas com mudanças sutis na pergunta, podem resultar em respostas diferentes.
Pesquisa da AtlasIntel (31/10/2025) fez a seguinte pergunta: “Você aprova ou desaprova essa operação?”: 55,2% dos brasileiros aprovaram e 42,3% desaprovaram. Entre os moradores de favelas, 80,9% aprovaram e apenas 19,1% desaprovaram.
A pergunta não deixa espaço para o pesquisado responder um “depende”. Muita gente, suponho, marca “aprovo” porque está espremida entre as duas perguntas, sem outra opção.
Se houvesse outra pergunta que ficasse entre os dois polos, como “aprovo”, desde que os territórios sejam retomados do crime organizado, mas em seguida o Estado marque presença com ações complementares, o resultado seria diferente.
Tecnicamente, não sei a melhor forma de fazer a pergunta, mas os técnicos com certeza saberão.
“Megaoperação” para provocar a matança e depois abandonar os moradores à própria sorte é covardia e cálculo político-eleitoral.
A sequência de operações mortais nos últimos anos no Rio mostra como elas são completamente ineficazes. Depois da matança, a polícia vai embora, e os faccionados voltam a ocupar os territórios, de forma ainda mais violenta.
Se essas operações por si só bastassem, o problema já estaria resolvido há muito tempo. Veja quantas delas foram realizadas, somente nos últimos anos.
Maio de 2021: Jacarezinho (27 mortos). Maio de 2022: Complexo da Penha (23 mortos). Julho de 2022: Complexo do Alemão (16 mortos). Março de 2023: Salgueiro (13 mortos). Outubro de 2025: Complexo da Penha e do Alemão (mais de 100 mortos)
Se, na sequência das operações, houvesse sido implementando uma política inspirada nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), os moradores não seriam obrigados a escolher entre operações letais e ineficazes e a brutalidade das facções
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