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A verdade das mentiras
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

A verdade das mentiras

Tipo Opinião

Na última quinta-feira, 9, o presidente Jair Bolsonaro creditou na conta de uma “perseguição política” o fato do Facebook ter derrubado, terça-feira passada, 73 contas marmotosas, disseminadoras de fake news e promotoras de discursos de ódio ligadas à sua família, assessores próximos e aliados. Defendeu a liberdade desse tipo de “imprensa” e afirmou que deve a elas “sua eleição à presidência”.

Pela primeira vez eu ouço uma verdade sair da boca do presidente. Ele deve sua eleição a uma rede bem estruturada de produção em massa de informações falsas e/ou falsificadas, a campanhas de difamação de adversários políticos e instituições, financiada – ao que tudo indica até o momento – por alguns empresários que o apoiam. Essa rede não foi silenciada após as eleições, ela se transformou – de acordo com informações publicadas – numa estratégia de “comunicação” do governo que mantêm a falsificação, a mentira e o ódio como pilares.

É uma grande bobagem – e por um tempo eu caí nela – a de considerar Bolsonaro um sujeito obtuso, limitado intelectualmente, sem capacidade de diálogo, levado pelo impulso autoritário. Como defende o filósofo Marcos Nobre, parar nesses atributos retira do presidente a responsabilidade pelos seus atos. Tais qualidades não impedem que ele tenha traçado um plano para desmoralizar instituições, aniquilar adversários e jogar o país num fosso obscurantista, cuja verdade é o que está em consonância com o mundo desenhado por ele.

Nesse mundo, a educação serve tão somente aos seus ditames descompensados ideológicos, a cultura inexiste, e saúde terá aquele brasileiro cujo destino ou recursos lhe reserve tal benesse. Quanto às instituições elas deverão existir para obedecê-lo e seguir seus preceitos. A criação desse mundo depende justamente dessa rede de comunicação estratégica mentirosa que o Facebook desmantelou esta semana. Embora seja radicalmente contra qualquer ação que impeça as pessoas de se manifestarem livremente e, por isso, não goste da ideia da derrubada das páginas, concordo que os responsáveis por elas respondam criminalmente pelas campanhas de ódio e difamação que atingem pessoas e instituições.

Para conhecer mais sobre o assunto, leia aqui: https://mais.opovo.com.br/reportagens-especiais/gabinete-do-odio-ceara/2020/07/02/muito-antes-do--gabinete---as-origens.html

 

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