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A ordem (falha) dos discursos
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

A ordem (falha) dos discursos

Crítica à demora no retorno às aulas durante a pandemia incorre em erro ao induzir que se as praias estão cheias, as escolas já poderiam estar funcionando
Tipo Opinião
Regina Ribeiro, jornalista do O POVO (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Regina Ribeiro, jornalista do O POVO

Li o outdoor e procurei a lógica do discurso. Quando se usa o método comparativo é importante deixar claro que as coisas comparadas têm as mesmas características para evitar conclusões erradas. A não ser, claro, que a ideia seja justamente essa. Li no outdoor: “Praias cheias. Escolas vazias. Qual a lógica disso?”.

Para início de conversa, é possível mesmo comparar a praia com o ambiente escolar? Parece que não se vai à praia todos os dias e fica-se lá, numa sala fechada com ar condicionado, por quatro ou cinco horas. Não há um professor na praia falando e em contato direito com um grupo específico e único de pessoas em idades semelhantes. Não há horário de chegada nem de saída da praia. Não há um currículo para ser seguido na praia nem conteúdos nem provas.

Onde é mesmo que está a lógica desse “discurso”? No ajuntamento das pessoas? Se temos tão mal exemplo na praia, não seria o caso de estendermos ao máximo a volta às aulas para dar maior segurança às crianças, pais e à comunidade escolar, levando em conta que apenas um pequeno grupo de grandes escolas têm condições reais de seguir o protocolo de exigências que inclui distanciamento, equipamentos para professores e gestores, fornecimento de álcool em gel e acompanhamento dos normas?

Aliás, não raro tento entender alguns discursos e permaneço na santa dúvida se é raso mesmo ou se esconde a verdadeira razão da ausência de fundamento. Outro exemplo do tipo ronda o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Vejo muita dificuldade do ministro André Mendonça em explicar a arapuca montada debaixo do seu nariz para investigar de forma não republicana 579 servidores federais e estaduais da área de segurança pública e professores identificados com o movimento antifascista.

Mendonça demitiu o diretor de inteligência da Secretaria de Operações Integradas (Seopi), o coronel Gilson Libório de Oliveira Mendes, que comandou o trabalho de identificação e monitoramento de críticos do governo Bolsonaro, como se todos nós não soubéssemos quem é o responsável por tudo que acontece naquele Ministério.

Ao ser interpelado pelo STF, André Mendonça afirmou que não havia “dossiê” algum. Depois, confirmou que, sim, existia um “relatório” e este faria parte do trabalho da própria pasta. Achei a explicação muito parecida com o discurso que tenta provar que praia é igual a escola.

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