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Uma retórica chamada Damares
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

Uma retórica chamada Damares

Casa a ministra Damares Alves avaliasse os documentos no site do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, quem sabe pautaria políticas públicas mais eficientes para as mulheres brasileiras

Damares Regina Alves não deixou barato. Quando soube que o Netflix estava exibindo no Brasil o filme Cuties, correu ao Fabebook: “Estou brava, Brasil! Estou muito brava!”, reagiu a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. “É abominável uma produção como a deste filme. Quero deixar claro que não faremos concessões a nada que erotize ou normalize a pedofilia. No Brasil, existe um governo que se importa de verdade em proteger as crianças e as famílias”.

Quem lê as frases valentes de Damares, pode até pensar que é isso mesmo o que acontece ou vai acontecer. O Netflix suspenderá a exibição do drama da plataforma, porque a ministra deu chilique. Damares se transformou em uma retórica em si mesma. Com uma singularidade particular que é, principalmente, a de dar celeridade a atos que começam e terminam apenas com as palavras. Acontece o mesmo com a ampla proteção que o governo dá à família e às crianças.

Aliás, caso Damares fosse ao site do seu ministério e estudasse algumas informações ali postadas, poderia sair de lá alguma coisa. Por exemplo, entre os dois únicos conteúdos recentes postados na seção de Igualdade Racial do MMFDH consta o “Retrato das Desigualdades do Brasil”. No documento, vê-se que o crescimento de mulheres chefiando famílias no País entre 1995 e 2015 foi da ordem de mais de 300%. Saltou de 9,55 milhões para 28,6 milhões.

O índice das famílias chefiadas por mulheres negras cresceu 367,4% no intervalo de 20 anos. Em 1995, eram 4,3 milhões de mulheres negras nessa categoria; em 2015 chegou a 15,8 milhões. O Nordeste responde por 51,09% desse total com 8,073 milhões de mulheres negras sustentando suas casas.
A Secretaria Nacional da Família criou no ano passado o selo Empresa Amiga das Famílias. O prêmio vai para as empresas que apoiem, de forma sustentável, ações que valorizem o desenvolvimento do núcleo familiar.

Então. Um dos grandes problemas que atingem às famílias no Brasil de hoje chama-se desemprego e o outro é o disparate da renda entre pessoas brancas e pretas. O selo da Damares deveria reconhecer empresas que, de forma sustentável, revisasse suas práticas salariais por gênero e raça. Seria uma verdadeira revolução nas famílias brasileiras.

Mas, claro, isso dá trabalho, não é Damares? Ser uma retórica é muito mais simples. Cultiva a imaginação das pessoas e desinforma.

 

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