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A nova cultura impressa na pobre exposição de vestes da posse
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

A nova cultura impressa na pobre exposição de vestes da posse

Enquanto o casal Bolsonaro abria a exposição com o par sem graça de roupas da posse de 2019, o ministro Ricardo Salles planejava se desfazer do Museu do Meio Ambiente, localizado no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.
Tipo Opinião

Que o presidente Bolsonaro e seu governo não estão nem aí para a memória brasileira, isso é notório. Bolsonaro chegou a chamar de “cocô petrificado” peças do patrimônio histórico nacional que deveriam ser protegidos pelo Iphan, mas que atrapalhavam os planos dos empreendimentos dos alguns dos seus amigos.

Ontem, diante do show de horror/humor narcísico que se transformou, pelo menos para mim, a abertura da exposição das roupas usadas pelo casal Bolsonaro na posse, fiquei imaginando o que significava exatamente o evento.

Faixas verde-amarelas foram desfeitas pelo casal anti-cultura. Via-se uma primeira dama radiante. Enquanto o rosto bonito em sorrisos dizia da felicidade com a exposição das duas míseras peças, as mãos de Michelle friccionavam uma na outra numa expressão nervosa, quase. Um show pífio. O marido de Michelle conseguiu piorar ainda mais as coisas que já pareciam bem ruins.

Foi tudo rápido. Mas, com repercussão duradoura. São muitas as perguntas que surgem diante do evento. Quem teve uma ideia tão infeliz? Existe alguém realmente interessado naquela dupla de vestido e paletó? Qual o significado daquelas peças para a memória nacional? Como justificar, mesmo que sejam 10 minutos, o tempo de ministros de Estado e um presidente da República diante de um evento com tal escassez de significância?

A história já deixou claro que os monumentos nacionais são pura criação do poder estabelecido. O poder delibera suas importâncias de acordo com as marcas que deseja imprimir numa sociedade. Por exemplo, a antiga União Soviética criou uma estética arquitetônica – considerada até por stalinistas de gosto duvidoso – para todo o país. Ergueu monumentos que pudessem mostrar a todos o novo mundo que estava surgindo ali.

Mussolini, ditador fascista, apegou-se ao antigo império romano para inspirar os monumentos da era fascista. Em 1936, começou a criar o bairro da Exposição Universal Romana que aconteceria em 1942 e queria abarcar e subjugar outras exposições que se pretendiam universais com as de Londres e Paris.

No Brasil, a revolução de 1930 e chegada de Getúlio Vargas ao poder criou a ideia do “novo homem brasileiro”. De lado, o governo Vargas jogou na prisão boa parte da inteligência brasileira, cassou jornais, impôs censura aos meios de comunicação. Por outro, criou leis e incentivou a preservação da memória nacional, criando e protegendo monumentos.

Os projetos de poder são ágeis em criar seus próprios monumentos. Bolsonaro até agora tem se empenhado em destruir a memória e a cultura do país. E nisso tem sido monumental. Colocou serviçais – não pessoas com pensamento autônomo – em lugares estratégicos da Cultura e do Patrimônio com a missão explícita de aniquilar tudo o que por muitos anos se chamou de memória nacional.

Enquanto o pobre casal Bolsonaro abria uma exposição com o par anímico das roupas da posse, o ministro do meio-ambiente decidia transformar em hotel de luxo o Museu do Meio Ambiente, localizado no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.

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