Regina Ribeiro: Boicotar homens é solução contra a violência? Creio que não
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Sou jornalista de formação. Tenho o privilégio de ter uma vida marcada pela leitura e pela escrita. Foi a única coisa que eu fiz na vida até o momento. Claro, além de criar meus três filhos. Trabalhei como repórter, editora de algumas áreas do O POVO, editei livros de literatura, fiz um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sigo aprendendo sempre. É o que importa pra mim
Regina Ribeiro: Boicotar homens é solução contra a violência? Creio que não
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Foto: O POVO
Regina Ribeiro, jornalista
Há alguns dias, escrevi aqui sobre alguns movimentos na internet que reúnem homens, cuja missão é cultuar o desprezo pelo feminino. Entre eles há o “Homens que Andam Sozinhos”. Estes se recusam a ter relacionamentos amorosos com mulheres, embora sejam héteros. Então, eis que descobri semana passada o 4B, grupo que começou na Coreia do Sul há alguns anos, de forma muito silenciosa, mas que está se expandindo mundo afora. O 4B é formado por mulheres que não querem saber de namoro (Bi Yeon-ae), sexo (Bi Sex), casamento (Bi Hon) ou bebês (Bi Chul-san). Na língua coreana, bi tem sentido negativo.
A justificativa das mulheres coreanas são as inúmeras notícias de ataques contra as mulheres desferidos por maridos ou namorados na Coreia do Sul. Mulheres heterossexuais, na casa dos 20, sentem-se amedrontadas diante da violência crescente. Embora muitas delas afirmem que não rejeitam os homens, dizem que estão trocando a incerteza de que encontrarão rapazes que as respeitem como seres humanos, por plena autonomia.
Na última segunda-feira, li sobre uma outra modalidade adotada, inclusive no Brasil, que é o detox de homens, o chamado “boysober”. Este, alcança mulheres que sofrem além de violência, frustrações sexuais e desilusões amorosas que as fazem sentir necessidade de ficar sozinhas. Leio essas coisas com uma imensa tristeza. Desencontros de tão magnitude parecem atestar nosso fracasso enquanto humanos e enquanto sociedade. Tudo indica que embora tenhamos desenvolvido tanto conhecimento e tecnologia, também nos tornamos experts em nos afastarmos uns dos outros de tal forma que as novas gerações recusam, inclusive, um mero encontro.
É verdade que as notícias que mostram homens violentos, abusadores, feminicidas e detratores de mulheres – no mundo real e virtual – transbordam no mundo inteiro e não apenas na Coreia do Sul. O Ceará, meu Deus, é um lugar perigoso para as mulheres, por exemplo. No entanto, não é verdade que todos os homens, todos, sem exceção, agirão dessa forma. Muitos estão militando junto com as mulheres para que se possa promover encontros agradáveis sexualmente, honestos do ponto de vista emocional e leves psiquicamente.
Que tipo de sociedade estamos construindo na qual homens têm medo das mulheres e decidem passar a vida sozinhos enquanto mulheres rejeitam os homens por medo de violência e optam por boicotá-los por completo? Esse nível de desencontro tem a capacidade de nos autodestruir em pouco tempo. Autodestruir como humanos mesmo, humanos capazes de troca com o diferente, que estejam dispostos a conhecer o outro e enfrentar um relacionamento. O medo abre, inclusive, uma lacuna política perigosa que pode ser preenchida por pessoas que sentem o cheiro do medo e o usam prometendo, entre outras coisas, o passado de volta. Um passado que pode vir com o viés político da ultradireita como um lugar perfeito e de plena (des)harmonia com pouco espaço para as mulheres e pleno domínio de homens.
Não meninas, não precisamos boicotar os homens. Nem todos são violentos, feminicidas ou estupradores. Os bons encontros ainda valem a pena para tornarmos o mundo digno da nossa humanidade. Embora falha, ela é tudo que (ainda) nos resta.
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