Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.
Nelson Rodrigues (Recife/PE, 1912 - Rio de Janeiro/RJ, 1980) foi, na minha modestíssima opinião, o melhor escritor brasileiro do século passado. Não se reportou a mundos imaginários, não criou palavras e expressões novas, apenas retratou, como ninguém, a vida como ela é, mesmo que esta, às vezes, se mostrasse irreal. Estilista e frasista brilhante, ainda encontrou tempo para se constituir no nosso maior dramaturgo. Sua observação precisa do cotidiano em seus mínimos detalhes, sua abordagem compulsiva do amor e da morte, fê-lo respeitado até por quem ideologicamente dele discordava, num tempo em que conservadorismo não rimava com retrocesso. Fazia de sua úlcera, a que tratava a pires de leite, cara aos seus muitos leitores. Ah, fina flor de obsessão.
Conta-se entre as suas maiores realizações a vasta e impagável galeria de personagens. Em várias delas, Nelson parece ter prenunciado quem seriam os protagonistas da atual escabrosa cena política nacional. Desse imenso rol, uma dá um passo à frente exibindo-se, palito de dente na boca e coçando o saco: o Palhares. Incapaz da empatia e da decência, o sujeito é daqueles tipos que não respeita nem a cunhadinha, perseguindo-a e encurralando-a lúbrico nos corredores da casa, babando na gravata. Pois bem, caros(as) leitores(as), essa figura ganhou um rosto definitivo: a cara do nosso (des)presidente. É certo que a peça representa um Brasil que andava calado havia muito e agora, tal como os quadrúpedes de vinte e oito patas do escritor, orgulha-se da própria torpeza.
Na última semana, o mandatário e seu entourage de horrores excederam-se. O pantanal já ardeu uma Bélgica e tanto, fotografias de animais pantaneiros carbonizados rodam pelo planeta, grossos rolos de fumaça atrapalham até o pouso de aeronaves oficiais e o distinto, antes de jogar a culpa nos índios, pede uma salva de palmas pela ação ambientalista de sua administração, jogando para debaixo do tapete a dura carta de reprimenda que alguns governos europeus lhe enviaram. Implica com o satélite do INPE, para si um espião comunista. Em vez de usar as forças armadas para debelar o fogo, deixa a milicada caiando meio-fio e cortando a grama dos quartéis. Em suas viagens, causa aglomeração, não usa máscara e dá bom dia a cachorro. Vôte!
Sua desfaçatez e seu firme compromisso com a mentira, o preconceito e o autoritarismo só não só maiores que a apatia do povo e o silêncio obsequioso de quem o pariu. Vibram apenas o gado que perfaz os seus 30% de fiéis e o lúmpen de sempre, que após torná-lo o mais recente pai dos pobres, já o olha de esguelha ante o anúncio do corte dos chorados R$ 600, a "esmola" que ele não queria dar e que hoje é a sua tábua de salvação. Como esquecer os cretinos fundamentais e os idiotas da objetividade na sua zelosa atividade de passar pano nos muitos deslizes do (des)presidente? Dia desses, almoçavam ao meu lado a grã-fina de nariz de cadáver e o seu marido gordo de três papadas. "Acabou-se o arroz", disse ele. "Ora, comamos macarrão", disse ela...
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