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Vivendas da barra pesada
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Vivendas da barra pesada

Tipo Crônica

A Rodrigo Queiroz

E o que ficou, nas minhas fatigadas retinas, desta semana de palhaçadas, patifarias, absurdos e bravatas, foi algo que tem a ver com o meu ofício: o tal condomínio na Barra da Tijuca, onde mora aquele que nos (des)governa, personagem central de grossa encrenca criada a partir do registro de entrada de um bandido no complexo residencial pelo porteiro deste. Aliás, Brasil, até quando ficarás refém de porteiros, motoristas, caseiros e de outros humildes serviçais para que conheçamos tuas podres entranhas? Nosso país parece linguiça de churrasco: cai da grelha diretamente sobre a brasa. Ativistas de sofá, acompanhamos a trama como quem segue uma novela global. Mas, nada de nela intervir, pois o BBB já era. Na sessão da tarde, brother, a tela é quente.

Contudo, voltemos ao tal condomínio. Nunca me agradou a ideia de fugir da cidade e reproduzi-la em locais distantes e ermos, criando-se representações tão idílicas quanto falsas da realidade urbana. Nesses paraísos artificiais, que grassam nas periferias e no litoral das nossas cidades, a ideia de segurança máxima é o que move a vida cotidiana. "Aqui jamais serei assaltado, eu e a minha família estamos seguros", disse-me um amigo, morador de um desses conjuntos. Dias depois, soube que era vizinho do Gegê do Mangue e do Paca, dois "bons meninos" ligados ao PCC e executados em Aquiraz. Para mim, sem-carro e bicicleta e urbano-dependente assumido, residir num local desses é o fim. Nunca seremos felizes negando a cidade, temos é que retomá-la para nós.

O tal Vivendas da Barra (Pesada) vai nessa linha. Implantado entre um canal e a praia e com acesso pela avenida Lúcio Costa, o inventor do bairro (onde te meteste, hein, mestre?), apresenta um padrão de ruas ondulantes com cul-de-sac, alcançadas por via lateral. As casas representam o que se pode chamar da fina flor da arquitetura nouveau-riche, com seus telhados em cerâmica clara, suas esquadrias em vidro azul, seus revestimentos em textura e a profusão de madeira nas muitas varandas. Vendo bem, esse estilo arquitetônico alia-se ao sambadejo, à moda fitness e ao novo humorismo brazuca para compor um life-style cafona de doer. Quanto ao arranjo das residências, sem qualquer relação entre si, derramam-se em direção ao mar, lembrando a lama de Brumadinho...

New Urbanism Safadão? Urbanismo Miami Vice? Planejamento urbano miliciano? Os rótulos abundam, poderíamos encher esta página com seus títulos. Como falou o José Simão, o condomínio é até bacaninha, o que mata é a vizinhança. Quanto a esta, o seguinte é este: o ser que nos (des)governa é vizinho do sujeito que matou a Marielle, o filho dele namorou a filha deste, que é comparsa do que entrou no conjunto residencial, sendo os dois ligados a um chefe de milícia carioca, que teve parentes empregados no gabinete do filho do primeiro citado e que ganhou deste, na cadeia, a mais alta comenda do legislativo fluminense, o qual tem ainda negócios (rachadinhas) com o queiroz. Mas, como diz o moro, advogado da choldra, não vem ao caso, não é mesmo?

Foto do Romeu Duarte

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