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Dezembro é o sábado do ano
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Dezembro é o sábado do ano

Tipo Crônica

A Cinthia Medeiros e Marcos Sampaio

O calor, agora acompanhado do mormaço, cozinha a todos e todas nesta cidade-hospício, mas há gente que jura ver nevascas caindo sobre os telhados das casas, renas passeando céleres pelo céu e ultra-divertidos Papais Noéis bimbalhando sinos na companhia de risonhos bonecos de neve. Tudo pode acontecer nesta Taba de Alencar, principalmente nesta quadra do ano, quando o juízo das pessoas está focado em perus, pernis, presentes e panetones. Bem, quer dizer, para aquela (pequena) parte do povo que ainda tem algum no bolso para gastar. Mas é que parece que botaram LSD na água! Muita loucura, doidice às pampas. Basta abrir o jornal (de papel, claro) para saber que está tudo aí, está tudo solto na plataforma do ar. Quem vai querer comprar banana?

Senhoras e senhores, é com prazer que informo que esta Loura Perturbada do Sol tem o maior ice-bar do mundo. Aliás, como costumamos dizer, o maior do mundo, do Brasil e do Norte-Nordeste. Para uma meia-trava de apenas 40 minutos no fresco boteco, o(a) distinto(a) paga uma taxa de R$ 90 para ver esculturas de gelo. Lindo, não? Bacana deve ser ir em grupo à tal taberna nos ônibus iluminados com motivos natalinos que circulam à noite por aí. Priscilla, a Rainha do Deserto, deve estar cortando os pulsos de inveja. Ou então encarar baladas bêbadas nos rooftops que começam a surgir a torto e a direito. Para quem, como eu, é sofredor de pânico de altura, não deve ser uma boa pedida. Ou, quem sabe, fazer, como muitos, da Barra do Ceará Fernando de Noronha.

Deixando o hedonismo de uma banda, mas sem abandonar o universo da marmota, vejo que os programas de notícias televisivos locais têm como fonte de inspiração o imbatível Barra Pesada. Política, cultura e economia, entre outros assuntos, deram seus lugares ao crime-sensação, agora registrado em tempo real e de forma espetacular pelas câmaras de segurança. Os bandidos, por sua vez, astros desses filmes, procuram dar o melhor de si: dia desses, dois ousados meliantes assaltaram uma joalheria usando a farda do Ronda do Quarteirão. Martin Scorsese, coitado, nem incha. Lembro-me da autópsia do célebre Fernando da Gata passando nas televisões da churrascaria elegante, todo mundo ligado e mastigando a picanha. Massa, naturalizamos a barbárie...

Enquanto isso, a prefeitura disputa com grupos privados quem derruba mais árvores nesta cidade-inferno. Os tristes troncos e galhos decepados nas praças e canteiros centrais fazem par com o absurdo desmatamento da nossa única reserva de cerrado. Ceará e Fortaleza retomam a relação inamistosa e chutam suas canelas por debaixo da mesa de negociações. Aliás, Vozão, vais mesmo trocar em 2020 teus patrocinadores pelo kit Imosec/Isordil/Valium? Escapaste da degola porque tua sina estava escrita nas cinco estrelas do Cruzeiro, mas pisa menos no ano que vem, ok? Tantas festas, tantos amigos secretos, tantas contas, tão pouco dinheiro. Ah, dezembro, derretes-te como o chocolate peba nas gôndolas dos supermercados da vida. Já gostei mais de ti.
E segue o baile.

Foto do Romeu Duarte

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