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Respeito, seu Ministro!
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Psicóloga e psicanalista

Respeito, seu Ministro!

Nélson Rodrigues, um dos escritores mais polêmicos da literatura brasileira, dizia que “qualquer indivíduo é mais importante do que toda a Via Láctea”. Paulo Freire, um dos intelectuais brasileiros mais reconhecidos internacionalmente e que completaria 100 anos no próximo mês, dizia: “...ninguém ignora tudo.

Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre”.

Já o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse que “crianças portadoras de deficiência atrapalham o aprendizado e tornam impossível a convivência”.

Esse recorte grotesco e estúpido explicita em que mãos está a educação no nosso país. Escancara a total desconsideração quanto ao fato de que, quando pensamos em educação e nos processos de aprendizagem, todo aluno deve estar alocado na condição de sujeito, de sujeito de desejo, sendo portador de uma história única e singular.

Desconhece também o Ministro pastor, que todo processo de aprendizagem é uma troca. Troca de saberes, de experiências. Nenhum aluno é um sujeito vazio.

Cada sujeito é parte constituinte intrínseca da sociedade e vice-versa e são os bons encontros com a diferença que nos possibilitam a construção de uma leitura de mundo menos míope, menos estéril, menos etiquetada e de uma aprendizagem significativa, rica de narrativas.

São sempre os novos encontros com a alteridade que nos desestabilizam e têm a capacidade de modificar a nós mesmos e ao mundo.

Além de escancarar ignorância, a fala do quarto Ministro da Educação do atual governo é também um desrespeito.

O respeito deveria ser o alicerce da esfera pública. Onde ele desaparece, ela desmorona.

O respeito às diferenças deve ser sempre o alicerce da educação. O que vem a ser uma deficiência?

Deficiência de quê? Somos todos diferentes, com marcas e cicatrizes únicas das quais nossa subjetividade se constitui.

Não nascemos com um EU pronto e acabado. Nascemos de um desejo dos nossos pais, marcado pelo narcisismo, que carrega o desejo de que sejamos perfeitos tendo como imagem seus próprios ideais jamais alcançados.

Por isso, se um é mais baixinho, ou mais alto, ou mais gordinho, ou mais magrinho, ou usa cadeira de rodas, ou óculos fundo de garrafa, se é negro, ou branco, ou tem excesso ou falta de cromossomos, ou ainda se é fruto do amor de uma relação homoafetiva, ou de uma mãe ou pai solteiros, ou ainda aquele que não é bom em matemática embora seja aquele colega que tSodos querem estar por perto na hora do recreio, o que vai importar mesmo é se foram desejados e amados no início.

Quando o amor foi presente, nada está deserto. E cada um vai aprender no seu ritmo, da sua maneira, no seu gingado. Porque como dizia Paulo Freire “discursar sobre humanismo e negar as pessoas é uma mentira”. Ensina e aprende, seu Ministro, quem mergulha nos sons do afeto!

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