Logo O POVO+
Carnaval, festa identitária brasileira
Foto de Sérgio Falcão
clique para exibir bio do colunista

Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO

Carnaval, festa identitária brasileira

O Carnaval brasileiro traz particularidades distintas dos demais lugares onde é praticado no mundo, por aqui, a festa foi antropofagicamente resimbolizada e transfigurada ao longo da História constituindo, atualmente, em uma das expressões culturais de maior identificação da brasilidade. As múltiplas expressões carnavalescas encontradas na continentalidade do Brasil representam a diversidade e riqueza de nosso povo
Tipo Análise
Carnaval 2019 - Desfile da escola de samba do Grupo Especial, Paraíso do Tuiuti, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Centro do Rio, na noite de segunda-feira (04) (Foto: Daniel Castelo Branco/AE)
Foto: Daniel Castelo Branco/AE Carnaval 2019 - Desfile da escola de samba do Grupo Especial, Paraíso do Tuiuti, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Centro do Rio, na noite de segunda-feira (04)

O Carnaval não possui origem definida, existem diversas teorias cuja conjugação de semelhanças apontam relação construída ao longo da História que podem explicar esse nascedouro. Segundo as pesquisas o Carnaval remonta a Antiguidade, vejamos algumas dessas teorias.

Na Mesopotâmia são associadas duas festas: as Saceias; comemoração do ano novo mesopotâmico no templo de Marduk. Ambas se caracterizavam pelas festas e inversão dos papéis sociais dos participantes. Outra hipótese aponta origem greco-romana, os bacanais (dionisíacas para os gregos) romanos enfatizavam a embriaguez e os prazeres sexuais. Roma também traz outras referências, a Saturnália e a Lupercália. Tais festas eram associadas ao solstício e divindades, respectivamente, com excesso de comida, bebida e dança.

Com a consolidação do poder da Igreja Católica na Idade Média as celebrações pagãs passaram a não ser bem vistas pelos excessos e inversão dos papéis que promoviam. Assim, na Alta Idade Média foi criada a Quaresma – período de 40 dias antes da Páscoa identificado com o jejum. Não havia uma duração exata, há diferenças nos vários países, mas as festas, podiam ocorrer do Natal à Páscoa.

A palavra Carnaval vem do latim “carnis levale”, significando “retirar a carne”. Procurava-se com a ressignificação das festividades controlar os excessos e desejos dos fiéis.

Brasil, o grande palco do Carnaval

O Carnaval tornou-se uma festa popular praticada de diferentes formas em várias partes do mundo, chegou ao Brasil, provavelmente, entre os séculos XVI e XVII, com os colonizadores portugueses.

O Carnaval vem na forma do entrudo, uma espécie de brincadeira, zombaria pública e festa praticado antes da Quaresma por escravos e grupos de baixa renda que percorriam as ruas molhando uns aos outros com líquidos mal cheirosos, como água suja, urina, lama. Embora participando das sacadas dos seus casarios, o entrudo não agradava as elites. Em 1841, com forte campanha na imprensa, chega a ser proibido continuando a ser praticado ao longo do século XIX e desaparecendo em meados do século seguinte.

No século XIX, a aristocracia brasileira traz ao Brasil os bailes de máscaras nos clubes e teatros, ao som, principalmente, das polcas. A seguir, criam as sociedades carnavalescas para desfilar nas ruas, sendo o “Congresso das Sumidades Carnavalescas” a primeira. A popularização dos bailes de máscaras ganha as ruas consolidando a prática de mascarar-se no Carnaval.

No final do século XIX foram criados os ranchos e os cordões, uma forma popular de transgredir no Carnaval o disciplinamento policial da festividade. As marchinhas surgem, também, no final do século XIX, precisamente em 1899, com a música “Ô abre alas”, da pianista e regente Chiquinha Gonzaga. A partir daí as marchinhas são associadas ao Carnaval, ganhando maior relevância com o advento do rádio no Brasil e perdendo representatividade na festa no começo dos anos 1960.

Na década de 1910 surgem os corsos, automóveis conversíveis com pessoas fantasiadas. Apura-se que tal prática tenha enfraquecido nos anos 1930 em virtude do acesso aos automóveis à maior quantidade de pessoas e, evidentemente, a elite perde o status exclusivo.

O samba surge com a música “Pelo telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, por volta dos anos 1910. A primeira escola de samba aparece em 1928, trata-se da “Deixa falar”, atual Estácio de Sá. A primeira disputa entre escolas de samba no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, acontece em 1932, vencida pela Mangueira. Com a benevolência e enquadramento às normas do governo Getúlio Vargas, as escolas de samba carioca passam a gradativamente consolidar-se na sociedade.

O crescimento e representatividade das escolas de samba, cariocas, principalmente, dar-se a partir dos anos 1960 com o investimento dos empresários do jogo do bicho e das outras áreas, também o poder público passou enxergar o Carnaval como fonte de recursos onde passa a cobrar ingressos nos desfiles.

A profissionalização das escolas de samba foi evoluindo ao longo dos anos, a construção do Sambódromo da Marquês e Sapucaí (ou Passarela do Samba) no Rio de Janeiro e do Sambódromo do Anhembi em São Paulo nos anos 1980, associados às transmissões televisivas, consolidou o samba como símbolo da identidade brasileira.

Vale destacar que o Carnaval brasileiro ao longo da História construiu capilaridade em todo território, com diferenciações e semelhanças nas suas regiões. Lembremos a riqueza e variação do Nordeste, como o afoxé e axé na Bahia, o frevo em Pernambuco e o maracatu no Ceará.

Foto do Sérgio Falcão

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?