Quando passei dos 70 anos, o Mestre, amigo meu da Beira Mar, disse que dobrei o Cabo das Tormentas. Sei não! Acho que as tormentas aumentam. O sufoco que os idosos estão passando nesta pandemia nos postos de saúde e hospitais públicos são de dar dó.

Sentado com a bateria do celular totalmente descarregada, aguardo a vez de um atendimento. Peço um lápis, um papel à atendente e começo a rabiscar. Cada louco com a sua mania. Desenho triângulos dentro do espaço definido pela forma retangular do papel.

O número três, sempre presente na vida. Ex-aluno de colégio de padres e vice-campeão de catecismo, minha cabeça era povoada pelos três reis magos, pela Santíssima Trindade com o Pai, o Filho e o Espírito Santo e a Sagrada Família com José, Maria e Jesus.

No futebol, o três também aparece a todo instante. No WM (3-2-2-3 ou 3-4-3), o mais equilibrado dos sistemas táticos, onde dois terços da sua configuração é representada por triângulos. Daí as orientações táticas para que se façam triangulações na esperança de iludir os adversários.

É com uma linha de três zagueiros, Tinga, Marcelo Benevenuto e Titi, que o técnico argentino Juan Pablo Vojvoda inicia as jogadas ofensivas do Fortaleza após o tiro de meta. Como pode ser ofensivo se a bola está na defesa? Sim! O que define uma equipe ofensiva é a posse de bola.

O técnico não encontrou nenhuma dificuldade para implantar essa saída de bola. O Fortaleza tinha feito algo parecido no tempo de Rogério Ceni, que às vezes utilizava a linha de três. Um zagueiro abria pela direita, outro pela esquerda e o goleiro linha Felipe Alves pelo meio.

A bola rolava de um pé para outro, enquanto os alas se projetavam, estendendo o campo. No momento em que a linha julgasse conveniente, a bola chegava aos pés de Felipe Alves, que a lançava pelo alto para os alas, que já se encontravam no campo do adversário.

Esta tática ficou como uma das heranças de Ceni, mas a grande descoberta de Vojvoda foi posicionar Tinga de zagueiro pela direita na atual linha de três. Como Tinga cresceu! A qualidade do seu passe salta aos olhos, mas para ser eficaz, é necessário que os jogadores da frente se movimentem.

E assim tem sido nessa ótima campanha do Fortaleza, cumprindo um dos ditames do futebol: “Quem se desloca recebe, quem pede tem preferência”. Um jogador com a bola está num dos vértices de um triângulo, no outro vértice alguém pede o passe, mas quem recebe é o terceiro, que se deslocou.