Logo O POVO+
A identidade do futebol brasileiro pegou um avião rumo ao exterior
Foto de Sérgio Redes
clique para exibir bio do colunista

O ex-jogador Sérgio Redes, ou

A identidade do futebol brasileiro pegou um avião rumo ao exterior

Cronista reflete sobre as mudanças no perfil do esporte nacional e sobre o quanto, a cada dia mais, jogadores queimam etapas em busca do sucesso imediato
Tipo Crônica

Nos fins de semana, o zumzum aumenta aqui na Varjota. Começa pela manhã, com meninos descendo em direção à Beira Mar. Imagino saberem que sou metido com futebol, porque quando carregam uma bola, costumam fazer zoada na frente do prédio que moro.

Incrível a vocação brasileira para jogar futebol. Lembro sempre do olhar singular do inesquecível Augusto Pontes sobre a supremacia do futebol brasileiro. Deixava de lado os craques e conquistas e recorria a um argumento que deixava o povo de orelha em pé.

Segundo ele, dois aviões lotados vão pousar no mesmo lugar. Um com brasileiros e outro com estrangeiros. Para desembarcar, uma exigência. Os passageiros teriam de se enfrentar em partidas de futebol. Aleatoriamente, são formados times estrangeiros e brasileiros.

A bola de cristal do Augusto previa vitória dos brasileiros no total de jogos. Faz sentido. Não é por acaso que contratam jogador no Brasil. O a aba de futebol internacional do site ge divulgou, em janeiro deste ano, as transações internacionais no ano de 2020.

Segundo o relatório, foram feitas 17.077 transferências de jogadores entre países de 180 nacionalidades diferentes. O Brasil é o país que mais exporta: 2.008 jogadores de futebol, o que equivale a 11% do total.

A matéria-prima é barata. É encontrada em qualquer metro desses 8 milhões de quilômetros quadrados, encantando milhares de torcedores com sua habilidade expressa através de seus dribles, controle da bola, passes e chutes nos campos de várzea, nas ruas e nas areias das praias.

Daí até virar um profissional de futebol falta muito: controle emocional, fundamentos do jogo, compreensão, confiança, ética e educação são aspectos importantes na formação de um jogador, mas isso não é tarefa para um clube brasileiro. O negócio é vender.

Tem sempre um dirigente e um empresário de plantão aguardando uma transação. Nessa ida para o exterior, alguns se dão bem e outros se dão mal. Quem se dá bem vira cidadão do mundo, porém, quem se dá mal vai perceber, com o tempo, que queimou etapas em sua carreira.

Todos sonham em ir para o exterior fazer seu pé de meia. Quem fica mal é o Brasil. Essas promessas são negociadas prematuramente a ponto de não termos mais nenhum ídolo. Para ilustrar, caro leitor, aponte nos dias de hoje quem seria um grande ídolo do futebol brasileiro?

Alguém que poderia servir de referência para esses meninos que descem em direção à Beira Mar com uma bola nos pés. Já tivemos muitos ídolos e não os temos mais. Pode-se alegar que os tempos estão mudando. É verdade! E com ele a identidade do nosso futebol.

Foto do Sérgio Redes

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?